Fale com a gente

Elio Migliorança

Parecia bobagem

Publicado

em

Entre as vantagens de envelhecer está o fato de acumular experiências, que, às vezes, não servem para nada, mas, outras vezes, revelam a sabedoria daqueles que conseguiram enxergar muito além do seu tempo.

Um dos “padrinhos” da criação do município de Nova Santa Rosa, o saudoso então deputado federal Arnaldo Busato, disse na década de 1970 que nós, do Oeste do Paraná, estávamos sobre as terras mais férteis do mundo. Isso está comprovado pelo que conquistamos nos últimos 50 anos.

Na década de 1990 surgiram os primeiros alertas sobre o futuro da agricultura na região e da necessidade de ações para preservar o meio ambiente e garantir o futuro.

Tínhamos água abundante, chuvas regulares, clima ameno e terras generosas. Tudo parecia infinito. Os últimos anos mostraram que nada é eterno e que a exploração descontrolada da natureza pode cobrar um preço impagável.

Em recente editorial, este jornal mostrou que o volume de chuvas nos últimos cinco anos vem diminuindo de forma acelerada. Na região já existem dados mostrando que a nossa fonte de água dá sinais de fadiga. Há muitos poços artesianos secando. Os poços artesianos abastecem praticamente toda a cadeia produtiva de proteína animal. Isto é um sinal alarmante.

Recordo de uma ideia surgida no tempo das “vacas gordas”, quando tínhamos chuvas em abundância, que parecia bobagem, foi ridicularizada por muitos e caiu no esquecimento. A ideia era reter a maior quantidade possível de água nas propriedades. Na área rural isso se fez com as microbacias integradas, mas na área urbana a ideia era que em cada terreno fosse cavada uma cisterna para onde seria canalizada toda a água da chuva daquele terreno. Como nas cidades tudo está coberto por asfalto, calçadas e telhados, a tendência é que a água vá para os riachos e dali para o mar. Se cada terreno retivesse sua parte, nós acumularíamos uma quantidade significativa para o lençol freático e com isso irrigaríamos o subsolo donde vem nossa sobrevivência hídrica.

No ano 2000, em pleno debate sobre o novo código florestal, então em gestação, surgiu outra ideia parecendo uma bobagem de boteco, mas que hoje se comprova seria uma troca justa em benefício de todos. Por lei o agricultor destina parte de sua área para preservação ambiental. Se queremos respirar, precisamos produzir oxigênio. Aquele que comprou a terra pagou por ela, mas precisa destinar parte dela para esta função social. A ideia a que me refiro era que todos dividissem esta conta, já que todos respiramos, pagando uma taxa que seria destinada aos donos da terra como compensação pelo reflorestamento.

Se isso existisse, como é feito em muitos países, talvez não tivesse acontecido esta destruição apocalíptica do que ainda resta da fauna e flora no Brasil.

Outro problema grave é a questão energética. Enquanto outros países investem fortemente em energias alternativas e não poluentes, nós temos no setor elétrico um monopólio estúpido que nos explora e uma burocracia que impede o avanço tecnológico, fazendo-nos reféns do atraso planejado. Não se trata de criticar um governo por isso, mas de criticar todos, porque precisamos investir hoje para ter resultado em 20 anos.

Infelizmente só temos políticos que pensam na próxima eleição. Faltam-nos estadistas que pensem na próxima geração.

 

O autor é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

 

Continue Lendo

Copyright © 2017 O Presente