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Elio Migliorança

Patriotismo meia-sola

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As festas de final do ano nos remetem a reflexões sobre a vida e nos motivam a renovar propósitos para o ano que vai iniciar. Além das reflexões, resolvi observar o que acontece ao redor, pois são épocas em que os aproveitadores de plantão dão o golpe tomando decisões em busca de promoção pessoal e vantagens indevidas.

Já é rotina o Legislativo se promover com as sobras de orçamento devolvidas ao Executivo como se fosse um heroico ato de contenção de despesas. Deputados estaduais e vereadores se vangloriam das economias feitas quando devolvem dinheiro para que seja aplicado em benefício da população. Pura conversa fiada. Os deputados estaduais rejeitaram indignados a proposta do governador eleito Ratinho Junior de reduzir o percentual do orçamento que é repassado ao Legislativo. Os deputados são patriotas apenas no discurso porque, na verdade, gastam além do necessário e não estão nem aí para as dificuldades da população que luta heroicamente para pagar suas contas em dia.

Outro exemplo de patriotismo às avessas vem do Judiciário, última trincheira de credibilidade a cair na vala comum dos aproveitadores e mostrar seu descaso com a penúria nacional. Conquistaram um aumento acima de 16% nos salários como contrapartida ao prometido fim do auxílio-moradia. Menos de um mês após a aprovação foi recriado aquele auxílio na maior cara de pau, já que são uma das poucas classes que se autoconcede benefícios e espetam a conta nas costas dos brasileiros comuns.

As “pautas-bomba” saídas nos últimos meses das votações do Congresso Nacional confirmam o título de campeão para o Congresso Brasileiro como um dos piores e mais caros do mundo. Mas os olhos da maioria voltaram-se ultimamente para o novo governo, que se prepara para assumir o país, depositando aí a esperança de um novo tempo na gestão pública e também para os movimentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que insistem em apequenar-se cada vez mais através de manobras e decisões que colocam em pânico milhões de brasileiros de bom senso.

Primeiro o ministro Ricardo Lewandowski mandou deter um advogado que declarou envergonhar-se do STF. Logo em seguida foi a vez do ministro Marco Aurélio Mello mostrar desprezo pela Corte que integra ao decidir pela revogação da prisão em segunda instância para milhares de condenados, tema já decidido anteriormente pelo plenário do Supremo. Aquela liminar foi o retrato perfeito da bagunça judiciária, fruto de um patriotismo meia-sola, que cheira a coisa inacabada ou malfeita.

Há quem aposte que foi coisa combinada, do tipo eu coloco o bode fedorento na sala, todos vão gritar e aí você tira o bicho de lá. Marco Aurélio concede a liminar, com isso consegue os holofotes da mídia nacional, em seguida o presidente do STF, Dias Toffoli, que precisa mostrar autoridade moral que lhe falta por ter chegado lá não por competência e, sim, por apadrinhamento, suspendeu a liminar concedida e com isso a população respirou aliviada.

Como se pode ver, ando com um olho nas festas de fim de ano e o outro nesta falta de vergonha na cara e de um verdadeiro patriotismo de nossas autoridades, já que todos vão pagar esta conta no futuro. Que em 2019 Deus nos conceda paz, saúde e muita energia para enfrentar os desafios de construir um mundo mais humano e justo para todos.

 

O autor é professor em Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

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