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Tarcísio Vanderlinde

Pó de Terra Santa

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Depois de uma rápida estadia no Egito, cruzamos o deserto do Sinai por transporte terrestre e atravessamos a fronteira Sul de Israel. Passamos pela fronteira rebocando a bagagem em meio a uma grossa camada de pó sob um vento quente e seco que soprava do deserto da Arábia.

Israel é hoje um país secularizado com área territorial que se equipara ao Estado de Sergipe. Do extremo Sul ao Norte são aproximadamente 450 quilômetros. As marcas religiosas da milenar história daquele país podem ser visualizadas em toda a parte do território e para além dele, como é o caso do Egito e Jordânia, países árabes com os quais Israel mantém hoje tratados de paz.

Israel conta com aproximadamente oito milhões de habitantes. Além dos judeus, inclui dois milhões entre árabes e outras minorias étnicas. As placas de sinalização nas rodovias e em lugares históricos indicam os idiomas mais falados naquele país: hebraico, árabe e inglês.

A dolorosa reterritorialização iniciou formalmente com a criação do Estado de Israel pela ONU em 1948, embora já existissem muitos judeus morando por lá antes daquela data. O ato da ONU não impediu diversas guerras e conflitos com os vizinhos e parte da população árabe que também já habitava o mesmo espaço. Territórios e territorialidades em clima de tensão estão em construção num lugar que muitos reconhecem como o principal palco de história da humanidade.

Ao avaliar o impacto ocasionado pela sua viagem, Érico Veríssimo, após ter visitado Israel com a esposa no ano de 1966, escreveu: “Israel é talvez a mais fascinante e admirável experiência humana de nosso tempo”. Evidentemente, esta pode não ser uma conclusão consensual. Quase sempre parciais, cada viajante tira suas próprias conclusões ao visitar aquela terra disputada por milênios.

Viajantes que esperam encontrar paisagens estonteantes como as que se veem em alguns lugares do planeta, inclusive no Brasil, podem se decepcionar ao visitar a Terra Santa. Há relatos negativos de pessoas que visitaram aquele lugar e não viram nada de excepcional. Mas existem também os indiferentes. O que acontece lá pouco lhes diz respeito.

Causa tristeza saber que, em muitos casos, a atitude indiferente vem carregada de um sentimento antissemita. Contudo, há pessoas que, mesmo não tendo vínculos étnicos com a população que lá vive, nutrem o desejo de conhecer aquele país ou lá voltar. Alguns já estiveram em Israel dezenas de vezes. Como se explica a indiferença ou o fascínio que aquela terra instiga?

Costuma-se ter algumas ideias a respeito do que seria uma resposta razoável a esta pergunta antes de se pôr o pé lá pela primeira vez. Entretanto, depois de caminhar por lá, alguns mistérios podem se tornar ainda mais insondáveis.

O escrito resultou da tentativa de construir uma síntese por quem teve a oportunidade de conhecer e caminhar por aquele lugar. De perceber que o pó que vez por outra se tirava do tênis ao final de uma caminhada era de Terra Santa.

 

O autor é professor da Unioeste

tarcisiovanderlinde@gmail.com

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