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Arno Kunzler

Política x religião

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Durante décadas era praticamente suicídio eleitoral no Brasil alguém falar ou discutir religião em campanha eleitoral.

Questionar atitudes do papa então… era motivo para provocar linchamento moral.

Logo, os políticos evitavam falar de religião e discutir futebol durante as últimas décadas.

Primeiro porque não existe uma razão para um torcer por um time e outro por outro time. Não tem lógica, é de ordem pessoal e imutável.

Religião é um pouco diferente. Primeiro somos batizados em uma igreja por influência e decisão dos pais.

Depois crescemos respeitando a decisão dos nossos pais, mesmo que no caminho muitos tenham, por motivações diferentes, decidido mudar de religião.

Somos um povo envolvido na vida religiosa, a maioria de forma involuntária, outros por opção.

Acontece que nos anos 50 e 60 principalmente, no Brasil, católicos e protestantes estavam em trincheiras opostas. Mal se olhavam e se falavam, muito menos frequentavam a igreja do outro.

Casamentos entre católicos e protestantes eram raros e envolvidos em muito zelo para evitar discussões desastrosas nas comunidades.

Com o surgimento das igrejas evangélicas a partir dos anos 70 e mais acentuadamente dos anos 90, vivemos um tempo de esvaziamento da Igreja Católica.

O fortalecimento das igrejas evangélicas e seu envolvimento na política, a exemplo do que fez a Igreja Católica ao longo da história, trouxe para o Brasil um novo cenário.

Um cenário diretamente envolvido na eleição do presidente Jair Bolsonaro, quando os evangélicos, em grande escala, apoiaram sua candidatura.

Agora, teremos um cenário ainda mais aguçado a partir da próxima eleição para presidente do Brasil.

A gota d’água para esse debate aconteceu semana passada, quando o papa Francisco recebeu o ex-presidente, ou ex-presidiário, Lula.

A chuva de ofensas e agressões ao chefe da Igreja Católica não se limitou aos oponentes políticos ou de outras igrejas, mas, e principalmente, um levante dentro da própria Igreja.

Embora as manifestações sejam pequenas, a irritação de muitos católicos é grande.

Talvez esse fato isolado não motive a saída de católicos de sua igreja, mas sensivelmente coloca pólvora na munição dos que desejam ampliar essa discussão.

Como o presidente Bolsonaro conta com a simpatia das comunidades evangélicas e tenta retribuir-lhes com afagos constantes, podemos esperar um acirrado debate político em torno do catolicismo no Brasil.

Se dentro da Igreja Católica existem muitas correntes, a maioria de esquerda, é verdade, é fato que grandes colaboradores do catolicismo no Brasil não aprovam e não desejam a Igreja novamente abraçando a esquerda e o PT.

Pela primeira reação exposta pelas redes sociais é possível imaginar o nível desse debate na próxima campanha de presidente, especialmente se Lula for candidato.

É uma pena, mas se o debate religioso for o centro das discussões durante a próxima campanha eleitoral, e provavelmente será, teremos uma polarização ainda mais ignorante do que temos hoje.

Vivemos um tempo de ignorância política, muito propício para encontrar soluções indesejadas.

Oremos, portanto, para não nos tornarmos algo semelhante ao que vivenciamos no Oriente Médio.

 

Arno Kunzler é jornalista e diretor do Jornal O Presente e Editora Amigos da Natureza

arno@opresente.com.br

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