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Arno Kunzler

Por que não incluir?

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A luta de classes no Brasil – e no mundo certamente também é assim – ignora a regra mais elementar do bom senso.

Para uns serem incluídos, não necessariamente outros devem ser excluídos.

Ou melhor, quando a luta propõe a inclusão de uns e defende abertamente a exclusão de outros, não haverá vitória.

Para haver vitória é preciso estabelecer lutas iguais que propõem a inclusão de todos.

Se o cobertor é curto oferece um pouco para cada um e não tudo para um e nada para o outro.

Resolver o problema de uns e criar um problema para outros não é resolver o problema, é apenas transferi-lo.

Há pelo menos duas décadas os brasileiros sentem que são envolvidos em lutas e a tomar posições que ora defendem a inclusão de uns, ora defendem a inclusão de outros.

No final de semana retrasado houve uma mobilização de agricultores por todo Brasil para prestar apoio ao presidente Bolsonaro.

Não se poderia imaginar outra atitude do setor que vem crescendo e recebendo apoio do governo não só para produzir, mas também para garantir suas propriedades que estavam ameaçadas pelas demarcações de terras indígenas.

E isso fica muito claro quando se dá uma volta pela região, especialmente onde haviam processos de demarcação, como Guaíra e Terra Roxa.

Na maioria das propriedades, os agricultores fincaram um mastro e colocaram uma bandeira do Brasil como forma de demonstrar seu apoio.

Ali está um marco das nossas divisões.

Certamente nem os indígenas querem todas essas terras de volta e nem os agricultores querem os indígenas desamparados.

Mas foram induzidos a essa disputa, essa luta entre classes.

Não raro se ouve agricultores revoltados prometendo guerra contra os indígenas e esses, na sua ignorância, também dispostos à luta.

A questão está aí: eles foram estimulados por atos ou ideias de governantes.

Para um país que precisa crescer e ganhar o respeito internacional é preciso respeitar o direito à propriedade que os agricultores conquistaram com muito trabalho e está previsto na nossa Constituição, mas, ao mesmo tempo, desenvolver políticas indigenistas que não ignoram as necessidades daquele povo e nem o seu desejo de participar do desenvolvimento de um país.

Do seu país.

Com um mínimo de compreensão e respeito a todos é possível fazer isso sem excluir ninguém.

Uma pátria tem que ser mãe, abraçar todos da mesma forma, respeitar igualmente e oferecer o mesmo incentivo, o mesmo apoio a todos.

E esse parece ser o grave problema da esquerda e da direita: não reconhecer que somos todos iguais e temos os mesmos direitos, primeiro ao trabalho e segundo aos benefícios gerados pelos governos.

Para ficar bem com uns, essas ideias extremistas pregam e estimulam o ódio e a raiva.

Ao invés de conviver harmonicamente entre si, as classes são estimuladas a conflitos e disputas que só interessam os grupos políticos radicais.

 

Arno Kunzler é jornalista e diretor do Jornal O Presente e da Editora Amigos

arno@opresente.com.br

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