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Arno Kunzler

Prática comum…?

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Ao que tudo indica, é prática comum em órgãos públicos a contratação de pessoas com salários acima do mercado para dividir com quem indicou.

Não é a única razão pela qual os salários no serviço público acabam virando atrações à parte, porque muitas vezes não condizem com a responsabilidade das tarefas.

Durante algumas décadas fomos construindo um modelo nefasto, em todos os níveis da administração pública, cedendo benesses que acabaram virando a tentação da maioria dos brasileiros.

Hoje, inclusive dentro das melhores faculdades, a maioria dos estudantes não quer ser empregado comum, nem ser dono do próprio negócio.

Os estudantes querem ser funcionários públicos.

Claro, o desejo da grande maioria é na magistratura ou no Ministério Público.

Mas também uma infindável lista de outras atividades ganhou destaque por seus elevados salários.

E aí o principal que se tem em conta não é o salário líquido, mas o trabalho em si, os benefícios indiretos e as tão desejadas aposentadorias.

Abaixo dessa linha do paraíso existem outras categorias muito bem valorizadas e que não precisam de concurso para ingressar: são os indicados pelos políticos.

Milhares de cargos distribuídos a pessoas ligadas às campanhas eleitorais, a grande maioria sem competência e sem vocação para exercer funções no serviço público, mas que, mesmo assim, acabam guiadas aos cargos por outros motivos.

Um deles é que não tendo competência para encontrar outro emprego que paga tão bem aceitam naturalmente devolver salário para quem o indicou.

Ao contrário do que podemos imaginar, essa prática não é uma descoberta que de repente apareceu na Câmara de Vereadores de Marechal Cândido Rondon.

Isso é antigo e se tivéssemos condições de investigar todos seríamos surpreendidos a cada instante.

A imoralidade generalizada no serviço público é um fato e para corrigir isso, sinceramente, não é só trocar os políticos.

É ingenuidade nossa acreditar que trocando os atuais políticos acabará essa prática insana, diabólica e nefasta que vai destruindo a vocação de quem gostaria de ingressar no serviço público e fazer carreira pelos próprios méritos e ser avaliado conforme sua dedicação e capacidade.

Nossa classe política é mesmo muito criativa e consegue sempre perceber uma oportunidade para fazer errado.

É revoltante tamanha perspicácia e com tanta cara de pau.

Assim, temos juízes aposentados compulsoriamente, como prêmio de consolação por terem sido considerados inaptos para o exercício da função.

Temos políticos na cadeia recebendo salários para cumprir mandatos que nosso sistema jurídico entende serem legítimos.

Deputados e vereadores com tornozeleiras eletrônicas participando das atividades políticas e votando projetos…

Empresários que passaram décadas ativamente promovendo corrupção e vivendo de negociatas, condenados a dezenas de anos de prisão, sendo absolvidos para continuar trabalhando com órgãos públicos.

Como um brasileiro comum, que deseja apenas trabalhar e ganhar dinheiro honestamente, vai entender isso?

 

Arno Kunzler é jornalista e diretor do Jornal O Presente e da Revista Amigos da Natureza

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