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Editorial

Preço caro

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Quem é um pouco mais experiente, para não dizer velho, lembra dos tempos da hiperinflação no Brasil. No governo de José Sarney, nos anos de 1980, as maquininhas usadas para colar os preços nos produtos eram as estrelas da mídia. Isso porque praticamente todo dia elas eram usadas para aumentar o preço de praticamente tudo; de arroz a calça jeans. Hoje era um preço, amanhã era outro. Quando o trabalhador recebia o salário, no fim de um mês, já não valia praticamente mais nada. Para o empresário era a mesma situação. O poder de compra se deteriorava dia após dia.

Até que em 1994 o Plano Real conseguiu controlar a hiperinflação. A estabilidade passou a fazer parte da economia, com leves altas e baixas, com índices de inflação que variavam na casa dos 5% ao ano, um pouco mais, um pouco menos.

Nos últimos tempos, entretanto, a inflação voltou a disparar. Nos últimos 12 meses acumula alta de mais de 8%. Longe da hiperinflação que assolou o Brasil naquele tempo, mas extremamente preocupante no contexto atual.

Nos últimos 12 meses, os preços dos alimentos ao redor do mundo ficaram cerca de 30% mais caros. Por causa da pandemia, a dificuldade de logística e a própria dificuldade em produzir bens e oferecer serviços aumentou os custos de praticamente tudo. Essa é uma das causas para o aumento do preço do arroz, do minério de ferro, do gás de cozinha, da gasolina, do aluguel, de praticamente tudo.

Para os mais pobres, com menor renda, a situação é ainda mais grave. Historicamente os mais economicamente humildes sofrem mais com a inflação, pois usam sua renda basicamente para pagar as contas e comprar comida. Para esses, os índices de inflação são bem maiores. Só o preço do gás de cozinha subiu quase 23% apenas de janeiro até agora. Para quem recebe um salário mínimo e paga quase 10% da renda para comprar esse botijão, dá para imaginar o tamanho dessa inflação.

Inflação alta não é um bom sinal para a economia de um país, tampouco para suas populações. São diversos os fatores que estão contribuindo para que essa inflação esteja fora do controle no Brasil, como a pandemia e a própria política do Ministério da Economia, que não consegue frear esse movimento de ascensão.

O Brasil precisa de uma retomada gradual da economia, que ainda é muito lenta por reflexos da reduzida velocidade da vacinação. Países que estão mais avançados na aplicação de imunizantes estão retomando mais agressivamente suas atividades econômicas, voltando aos eixos mais rapidamente.

Nesse cenário de retomada da economia lenta e inflação em alta soma-se o colapso nos sistemas de saúde em várias partes do país por conta das vítimas da Covid-19. O problema é grande.

A época da hiperinflação é coisa do passado, mas a maior oscilação dos últimos anos é mais um problema para o Brasil encarar. E quem paga, sempre, é o cidadão. E paga um preço caro.

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