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Arno Kunzler

Produção x consumo…

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É bem verdade que a política de estimular o consumo no Brasil não é de tudo errado. Algumas áreas, especialmente a construção civil, deram respostas maravilhosas, tanto econômicas como políticas. Agora, existe uma regra para o desenvolvimento muito simples. Essa até nós, leigos, entendemos.Não se pode estimular o consumo acima da capacidade de produção, quer dizer, se as pessoas querem comprar mais do que o comércio tem para oferecer, os produtos terão seus preços majorados.Essa é a lei mais elementar da economia.Mas o nosso governo federal insiste em facilitar o financiamento ao consumo e em bem menor grau a produção.O resultado é exatamente o esperado: pressão sobre os preços e aumento vertiginoso das importações.O que acontece com a pressão sobre os preços? A primeira resposta é aumento da inflação. E o que os governos fazem para combater a inflação? Aumentam os juros. E o que o comércio faz quando não encontra produtos no mercado interno? Importa. E o que acontece quando o país importa mais do que exporta? Gera déficit da balança comercial.Duas coisas que afetam diretamente a estabilidade econômica.Quanto tempo um país como o Brasil consegue crescer com juros oficiais de dois dígitos? Nesse momento podemos observar duas questões. A primeira é razoável: o governo aumenta os juros e mostra que combater a inflação é mais importante do que ganhar votos, pelo menos aparentemente. A segunda é muito ruim: o governo anuncia, através da propaganda oficial, um pacote de financiamento para pessoas físicas endividadas, o tal do crédito consignado em até 96 meses…O que isso significa? Significa que o governo vai patrocinar um “alívio” para as pessoas com elevado grau de endividamento, proporcionado, na grande maioria das vezes, pela própria política de estímulo ao consumo e vai jogar o problema pra frente. Simples assim.Um pacote de crédito feito para remendar uma crise que está sendo disfarçada, por enquanto.E é certo que o governo não vai permitir que os eleitores endividados puxem a fila do descontentamento.Por enquanto a venda de carros novos, a construção civil e setores da indústria de eletrodomésticos da linha branca fazem a festa com incentivos claros para não deixar o consumo cair.Até quando será?Mas o que salva mesmo a “pátria” é o agronegócio, que vem de sucessivas boas safras e preços estáveis, em alta no mercado internacional, o que garante um desempenho muito acima do esperado pelo próprio setor.Em suma, estamos equilibrando a balança comercial exportando mais soja in natura, fruto de supersafras seguidas. Mas vamos depender disso até quando? E quando houver uma quebra de safra? Enquanto o país cresce e consome mais, nosso parque industrial continua enfraquecido pela ausência de incentivos, seja de ordem fiscal, trabalhista ou logística.Enquanto o governo financia carros novos em abundância, para não permitir demissões nas indústrias, cria enormes gargalos para os prefeitos, que não sabem mais o que fazer com o trânsito maluco das cidades.Pode ser que o governo ainda tem o controle da situação, mas com os problemas políticos que enfrenta, Copa do Mundo e eleições logo aí, não é difícil imaginar que a situação já esteja fora de controle.Fora do controle pode significar um pacote de medidas anti-inflacionárias e anticonsumo, para logo depois da eleição presidencial. Não seria a primeira vez que isso acontece no Brasil. O Plano Cruzado durou apenas um dia mais do que a campanha eleitoral em 1986.
Por Arno Kunzler

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