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Elio Migliorança

PROFESSOR À MODA ANTIGA

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Recentemente a diretora da escola me disse que sou um “professor à moda antiga”. Fiquei vários dias refletindo sobre isso e fazendo uma análise do meu trabalho como professor para saber se a afirmativa era uma crítica ou um elogio. Cheguei à conclusão que era um elogio e ao mesmo tempo um incentivo para continuar com esta postura. Ser um professor à moda antiga não significa estar desatualizado e ultrapassado. Significa ter uma escala de valores e não abrir mão dela. Respeitar o aluno e exigir respeito. Criar um clima próprio para estudar, sem conversas paralelas. Fazer com que os alunos se respeitem entre si. Aproveitar ao máximo o tempo mesmo contra a vontade dos que preferem moleza. Manter contato permanente com os pais e exigir que eles assumam sua parte no processo. Afinal, a função primeira da escola é ensinar. Então este deve ser o compromisso maior do professor. Produzir conhecimento.
E para que isso aconteça há uma série de fatores que devem ser levados em conta. Criar um clima adequado para o aprendizado, dar condições e exigir o conhecimento do conteúdo. Aluno adora “matar” uma aula. O professor não pode entrar no jogo. Estudar em casa? É fundamental. Ninguém aprende apenas frequentando uma escola. E aí começa uma verdadeira guerra. Porque muitos pais “abandonam” os filhos na escola e transferem aos professores toda a responsabilidade pelo aprendizado e também pela educação. Missão impossível. Se os pais não se comprometerem juntos, não monitorarem este tempo de estudo em casa, o resultado será desastroso.
Os atrativos para as crianças e jovens são infinitos. Atrativos que vão do celular ao videogame, passando pelo computador e televisão. Do futebol ao passeio com os amigos, passando pela pipoca e o tererê. E todos os passatempos mais divertidos que estudar. Crianças e jovens precisam ser controlados. Em casa e na escola. A educação tem que vir de casa. E os pais devem cuidar para não passar aos filhos a ideia de que eles são superiores aos demais. Dia desses uma professora teve que chamar a atenção de um aluno que perturbava a aula e os demais. Prontamente o aluno voltou-se para a professora e perguntou: você sabe quem é meu pai? A professora ficou sem reação. Comentando o fato após a aula, sugeri que na próxima vez ela respondesse ao aluno o seguinte: “se eu olhar o teu sobrenome vou saber que você é filho de um grande homem, mas se olhar o teu comportamento vou achar que você é filho de um jumento”.
Quase encerrando minha carreira como professor, confesso que a maior homenagem que recebi de muitos alunos foi vê-los triunfando na vida, conquistando uma profissão e exercendo-a com dignidade. Sonho dos pais e projeto dos estudantes, o sucesso não acontece por acaso. Colocar toda a responsabilidade nas costas dos professores é uma forma de “tirar o corpo fora” tanto por parte dos pais quanto dos governantes, que incluem a educação em todos os discursos, mas a excluem na hora da prática administrativa. Ao invés de comerciais na TV para aumentar o número de professores, será mais inteligente tratar com dignidade os que já exercem a profissão.

* O autor é professor em Nova Santa Rosa
miglioranza@opcaonet.com.br

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