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Dom João Carlos Seneme

Quaresma, tempo forte para confirmar nossa fé

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As leituras deste 1º Domingo da Quaresma nos propõem uma mensagem bem atual: a fé, como capacidade de ler e interpretar, através de nossa história pessoal e de toda humanidade, os gestos de salvação realizados por Deus.

A pessoa de fé é aquela que mergulha na história, porque sabe que é nela que Deus se manifesta e se revela nos acontecimentos do dia a dia. Podemos conhecer Deus quando Ele decide se manifestar como de fato manifestou através de eventos na história humana: na vida de Abraão, Isaque, Jacó e, finalmente, através de Jesus Cristo.

Jesus nasce como um de nós, é humano e frágil como nós, exceto no pecado. Depois de 30 anos vivendo no silêncio, Jesus inicia sua missão de nos conduzir a Deus. Por isso, Ele é batizado por João Batista. Depois do batismo, o Espírito o conduz ao deserto e ali se retirou durante 40 dias. O deserto sempre foi um lugar teológico, onde o homem se encontra consigo mesmo e pode responder ao chamado de Deus. Quarenta faz referência aos anos que Israel caminhou no deserto na direção da terra prometida; também foram os dias que Moisés passou no Monte Sinai para receber os dez mandamentos.

Jesus se recolhe no deserto antes de iniciar sua missão pública. Através do silêncio e oração, neste lugar onde nada poderá distrai-lo, Ele deverá escolher qual o caminho a seguir: ser um rei-messias, libertador político de Israel como muitos esperavam; ou ser o servo do Senhor que indica o caminho para a vida eterna.

A maturidade de Jesus é apresentada no texto na forma dramática e profundamente humana das tentações. O diabo é representado no contexto literário através de uma disputa: ele apresenta a Jesus o messias-rei, tentado pelo poder visto de forma puramente humana. O texto mostra que Jesus precisa educar a concepção messiânica dos discípulos, mostrando que o messias temporal é uma tentação diabólica. Eles precisam ficar longe da vã e ávida expectativa de serem reconhecidos pelos prodígios. Deverão aceitar as provas, dificuldades, tentações e fragilidade humana. Tudo isso Jesus teve que enfrentar para confirmar sua missão.

As tentações ajudam a fortalecer nossa presença no mundo como filhos e filhas de Deus. É quando a vida nos revela a nós mesmos. Pode tratar-se de situações dramáticas, dias difíceis, situações do dia a dia, porem são experiências carregadas de sentido. Somos colocados diante de nós mesmos e de nossas responsabilidades. Nossas escolhas definem o nosso presente e futuro. As tentações não são sinônimos de pecado. Elas nos colocam à prova para consolidar quem somos, para onde vamos e quais são as razões profundas do nosso agir.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), todos os anos durante a Quaresma, nos propõe um gesto concreto: a Campanha da Fraternidade. Em 2022 o tema gira em torno da educação como meio para construção de uma convivência social harmoniosa e fraterna. A educação sempre foi um elemento essencial da missão da Igreja. Através dela, a Igreja concretizou sua missão de educar no amor a Deus e no amor ao próximo, destacando a formação de discípulos missionários a serviço da evangelização. A educação humanista coloca a pessoa no centro e envolve toda a sociedade na educação como um processo. Se queremos seres humanos melhores, vamos investir na educação. Boa caminhada quaresmal.

 

O autor é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

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