Silvana Nardello Nasihgil
Quem escolhe ser feliz não aceita se alimentar de migalhas
Quantas vezes sentimos culpa por coisas que nem sabemos como aconteceu e sequer sabemos explicar?
Quantas vezes, por medo de perder alguém, nos submetemos às grosserias do outro, à falta de respeito e compreensão?
Quantas vezes seguimos disfarçando as dores que o outro nos causa por medo de ficarmos só e por isso nos acovardamos ao invés de tomarmos as atitudes necessárias?
Quantas vezes permitimos que os outros façam escolhas por nós e vamos seguindo de arrasto, sem força e sem coragem para mudar?
Quando isso acontecer, quando o outro tirar a nossa paz, precisamos parar de arrumar desculpas para o nosso mal-estar.
Precisamos primeiramente buscar compreender sobre a nossa contribuição para que as coisas chegassem ao ponto que chegaram. Quando isso não fizer sentido, é hora de pensarmos em nós. Muitas vezes aquilo que acontece não tem nada a ver conosco; está ligado às dores do outro, às carências do outro, ao seu jeito grosseiro, mal-educado e sem amor que ele desenvolveu como padrão de comportamento.
Isso é problema do outro, responsabilidade dele, não tem nada a ver conosco.
Quando isso acontecer, em nome da nossa saúde mental, precisamos parar de romantizar atitudes que desconstroem e que humilham. Precisamos nos perguntar por que ainda estamos permitindo que isso aconteça e buscar os caminhos que possam conduzir à liberdade desse viver sem sentido.
Aonde está escrito que a gente veio ao mundo para encontrar um estranho e ser responsável em consertar tudo aquilo que está confuso e disfuncional na vida dele?
Isso é papel do(a) psicólogo(a) e de ninguém mais. Família, amigos e pares são parcerias que se auxiliam, se amparam e se amam, mas isso não tem nada a ver com: se aturam e se aguentam. Ninguém precisa ter que suportar grosserias e falta de respeito e continuar ficando por pena ou falta de coragem.
Tentar justificar a permanência na vida de alguém quando as atitudes do outro são claras de que não se cabe tem muito mais a ver com a falta de amor próprio do que com o amor que o outro não dá.
O amor verdadeiro não impõe ao outro uma prisão, pesos, desconforto, sofrimentos, não carrega o outro de responsabilidades que não são dele. O amor de verdade olha para o outro e busca o seu bem-estar, o seu conforto e a sua felicidade.
Quando em uma relação o outro sabe o que te machuca, sabe o que te traz sofrimento, porque você já disse, até já cansou de dizer, e mesmo assim insiste em agir sempre igual; quem mesmo sabendo o que te faz mal continua com os mesmos comportamentos, isso definitivamente não é amor!
Diante das verdades da vida, é preciso tirar as “vendas” que embaçam os sentimentos, é preciso saber que se merece mais, parar de arrumar desculpas para o sofrimento e agir.
Quem escolhe ser feliz não aceita menos do que sabe ser merecedor. Não vive para se alimentar de migalhas quando sabe que pode escolher ter na vida um banquete.
Que a fé e a coragem sejam as condutoras dos começos e recomeços, quantas vezes se fizerem necessários na nossa busca pela felicidade.
Silvana Nardello Nasihgil é psicóloga clínica com formação em terapia de casal e familiar (CRP – 08/21393)
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