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Arno Kunzler

Questões muito sensíveis

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Os governantes muitas vezes não conseguem avaliar a dimensão de pequenos problemas para as pessoas.
Por conta disso, permitem equívocos que custam caro para sua imagem.
Às vezes um investimento grande não tem nenhuma repercussão positiva para um governante, como por exemplo, a aquisição de máquinas pesadas para melhorar determinados serviços, ainda que sejam essenciais, como estradas.
Construir um posto de saúde em determinada localidade, mesmo sendo fruto de uma intensa campanha reivindicatória, pode não render benefícios à imagem do governante se depois de construído o atendimento às pessoas não for considerado por elas como diferenciado.
Mas duas questões sensíveis merecem ser analisadas de forma criteriosa.
Não que sejam questões tão importantes que mudam o destino das pessoas, ou de uma comunidade. Mas são questões que mudam a sensibilidade, mudam o jeito de ver o gestor público e mudam principalmente o humor e com facilidade e rapidez o tom das críticas.
Uma delas aconteceu no final do ano em Marechal Cândido Rondon, que foi a questão do lixo.
O lixo caseiro é um rejeito que ninguém suporta por muito tempo, dois a três dias é muito tempo, uma semana ou mais é insuportável.
Se descuidar desses pequenos detalhes é perigoso.
Passa uma ideia de incapacidade para resolver algo pequeno, mas sensível para as pessoas, especialmente as mulheres, que via de regra lidam diretamente com isso.
Quando as críticas surgem dentro das casas por quem normalmente é ponderado e usa toda sua paciência para lidar com os problemas familiares do dia a dia, as famílias não só ficam chateadas, mas se instala um sentimento de revolta.
Outra questão não menos importante é a interrupção no abastecimento de água, que também vem ocorrendo com demasiada frequência em Marechal Cândido Rondon.
Aquilo que as pessoas só percebem quando falta, quando ninguém se importa de onde vem, com que sacrifício está chegando a sua casa.
Mas quando falta, provoca uma reação imediata de insatisfação.
A água, que sequer percebemos na maior parte do tempo, é outro fator que passa diretamente de um sentimento de descaso para revolta.
Vendo aquele vaso sanitário com dejetos que não pode ser acionado para sumir com aquilo, é uma sensação que gera profundo desconforto.
Um piso empoeirado, o suor no corpo, as panelas na pia, são todas questões que mexem com a sensibilidade das pessoas.
E esse sentimento de revolta é diretamente atribuído a quem?
Normalmente não são os que tinham a responsabilidade de providenciar a solução, os que receberam a confiança do governante que os paga para isso.
A revolta não é contra os funcionários que deixaram de recolher o lixo porque também querem comemorar as festas de final de ano.
A falta de água nunca é atribuída a intempéries climáticas, mesmo nos casos em que se sabe que são elas que provocam sua carência.
A culpa é de alguém, alguém que no imaginário do cidadão deveria fazer algo e não fez.
São, portanto, duas questões pequenas aparentemente, simples até de resolver na maioria dos casos, que geram o pior sentimento possível, a rejeição.
É bom que os administradores redobrem seu cuidado para evitar que pequenas falhas, às vezes mal avaliadas, lhes tragam profundo desgosto.
E esse sentimento, esse desgosto, essa rejeição não tem cor partidária, não tem religião e nem sexo, é igual pra todos.
Se alastra com muita facilidade e rapidamente.
Faz o cidadão não ver as grandes e boas coisas que eventualmente estejam acontecendo, para fixar sua visão num problema aparentemente menor, mas capaz de transformar uma pessoa calma, serena e ponderada em alguém áspero e profundamente crítico.

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