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Editorial

Rap da vergonha

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Às vezes, a Justiça brasileira envergonha o cidadão. Um dos chefes do Primeiro Comando da Capital (PCC), André do Rap, finalmente, era preso em setembro de 2019. Dono de helicópteros, aviões e embarcações de luxo, de empresas e mansões, era localizado e capturado pela polícia depois de meses de investigações. Um contingente enorme de pessoas e um caminhão de dinheiro público, na época, foram necessários para prender o maior atacadista de drogas enviadas do Brasil para a Europa. Uma enorme batalha contra o crime organizado era vencida naquele momento.

Mas a Justiça fez seu papel. Soltou o criminoso na manhã de sábado (17). A soltura foi revogada no mesmo dia, mas o tempo foi suficiente para que André do Rap sumisse mais uma vez. Agora, centenas ou milhares de policiais e outro caminhão de dinheiro estão sendo empregados para recapturar o fugitivo.

A impunidade e as brechas que a lei penal brasileira oferecem só estimulam ainda mais a corrupção, a criminalidade, a bandidagem. O que pensou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello? Será que ele pensou: “se a lei dá essa possibilidade, vou soltar um dos maiores traficantes do país. Armado e perigoso, mas tudo certo, pois a lei permite”?

Quando o Congresso e o governo, juntos, mudaram o Pacote Anticrime proposto pelo então ministro da Justiça, Sérgio Moro, ninguém imaginou que isso iria acontecer?

Quando deslegitimaram a prisão em segunda instância, ninguém sabia que poderosos traficantes, corruptos do poder e grandes empresários envolvidos em crimes não se valeriam dessa “brecha” para nunca, nunca pagarem pelos seus delitos?

Sabiam, e por isso mantiveram as leis brandas, passíveis de interpretações como a que o ministro fez.

E assim o Brasil caminha. Ladrões de galinhas, que não têm dinheiro para pagar advogados, ficam engaiolados. Ficam também até inocentes que, por erros da Justiça, são esquecidos nos xilindrós. Mas o bacana não fica.

Que a Justiça não é igual para todos, todos já sabem, mas soltar André do Rap foi um tapa na cara tão forte que chega a desnortear. O cidadão tem que ver a notícia para crer, pois só contando ninguém acredita. Por motivos óbvios, parece mais uma piada do que um fato.

Enquanto o Brasil não mudar suas leis para punir exemplarmente os criminosos, o crime, a corrupção e todas as mazelas que eles trazem consigo serão eternas companheiras. Chega de saidinhas para o Dias das Mães, chega de indulto de Natal, chega de decisões estapafúrdias e ilógicas, chega de redução de pena. Criminoso deve ser tratado como criminoso e cumprir sua pena até o fim. O Brasil do retrocesso é o mesmo que hoje escuta indigestamente o Rap da vergonha.

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