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Elio Migliorança

Realista sim, pessimista não!

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Realista é a atitude prática de quem encara de frente a realidade, apego ao real e concreto. Já o pessimista vê, pensa, sente e interpreta as coisas à sua volta pelo lado negativo, e tende a esperar sempre o pior.

Para muitos, pessimista é aquele que pensa de forma diferente, cuja ideia, independente da importância, precisa ser atacada e destruída.

Os agricultores da região Oeste do Paraná estão colhendo a safra de soja e os resultados obtidos são a prova concreta de que a natureza está fora de órbita. Pertence ao passado a regularidade do tempo e principalmente das chuvas. O aquecimento global é uma realidade e está mostrando suas garras. Os alertas foram muitos e pouco serviram, já que aqueles que deveriam ter acreditado nisso e tinham a responsabilidade maior de fazer algo para evitar o caos e proteger as futuras gerações não o fizeram.

Essa é a parte que mais assusta nesta questão do aquecimento global. O descaso e as atitudes contrárias às sugestões dos pesquisadores e cientistas que atestam com tal consistência de dados estatísticos provando que efetivamente a agressão à natureza está provocando desequilíbrios com consequências imprevisíveis, mas cujos efeitos já estão sendo sentidos em todos os continentes, fruto do descaso e atitudes contrárias das autoridades que deveriam tomar providências e não o fazem.

Além dos prejuízos que muitos agricultores estão colhendo por conta das irregularidades climáticas que segundo os pessimistas sempre existiram, mas os sensatos respondem que nunca com tanta frequência e de forma tão destruidora, muitas vidas se perderam nos últimos dias no Brasil. As recentes chuvas em Belo Horizonte mostraram a possibilidade do caos em qualquer lugar quando o desequilíbrio mostra sua força. Sim, porque está equivocado quem pensa que o aquecimento global se refere somente ao aumento da temperatura. Isso também, mas o desequilíbrio do clima é a parte mortal deste fenômeno. Chuvas demais ali e de menos aqui. Frio onde não devia e calor onde ele não é bem-vindo.

Voltando a Belo Horizonte, que viveu seus dias de dilúvio, surgiu uma proposta de mudança. Ao invés de “minha casa minha vida” por lá terão “minha boia minha vida”, e a prefeitura criará o programa “balsa família”. Além de airbag, os automóveis passarão a ter também coletes salva-vidas. Pelo menos alguém se saiu bem. A Companhia de Saneamento do município conseguiu cumprir a promessa de colocar água e esgoto na casa de todo mundo. E a tragédia ceifou uma centena de vidas no Estado de Minas Gerais.

A enchente em Minas Gerais parecia uma reprise do que havia acontecido no Espírito Santo no mês de janeiro, e logo depois foi a vez dos paulistas tentar encontrar a Arca de Noé para serem resgatados do dilúvio que se abateu sobre a cidade.

O problema não está na agricultura do Brasil nem nos incêndios da Amazônia ou da Austrália. É o conjunto da ópera que precisa tocar afinado. Assustador é ver muitos governos pelo mundo virando as costas para os debates, as pesquisas e as propostas de ação para evitar o caos. Falar deste tema não é ser pessimista, mas ter consciência da realidade dos fatos e pensar nas gerações futuras que podem pagar o preço da irresponsabilidade desta geração. 

 

O autor é professor em Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

 

 

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