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Elio Migliorança

Revolução silenciosa

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O mês de junho foi rico em fatos relevantes relatados pelos meios de comunicação. Alguns impactarão nossa vida no futuro e outros, uma vez concluídos, deixarão saudades ou quiçá uma ressaca que pode afetar o humor nacional, já que brasileiro faz piada até na hora da desgraça.

A Copa do Mundo de futebol feminino na França mostrou que as mulheres aprenderam a rolar a bola com a mesma habilidade que os homens, e sem a simulação que marcou a seleção masculina no último mundial. Mesmo eliminada do mundial, a seleção feminina saiu da copa de forma elegante e de cabeça erguida.

A Copa América segue seu ritmo sem ter provocado grande empolgação da torcida brasileira. No passado os brasileiros se transformavam em técnicos quando ocorria um evento internacional de futebol; hoje temos milhões de especialistas dando “pitacos” sobre os diálogos divulgados pelo site “The Intercept Brasil”, os quais teriam sido trocados entre o juiz e os procuradores da Operação Lava Jato. E aí ouvimos pérolas como daquele que julga ser mais acertado condenar o policial que encontrou o corpo do que punir o assassino que deu origem ao cadáver.

No meio de todo este furor noticioso, ampliado pelo debate sobre a reforma da Previdência e outras reformas em gestação, passei as últimas semanas observando o comportamento das pessoas ao redor, nos lugares que frequentei e cheguei à conclusão que uma revolução silenciosa, mesmo que ainda em forma embrionária, está tomando forma e faz nascer a esperança de dias melhores.

Nas quatro cidades onde observei o comportamento dos motoristas no trânsito, surpreendeu-me o número dos que pararam o veículo para que pessoas atravessassem a rua na faixa de pedestres, alguns até pararam antes que o pedestre tivesse iniciado a travessia. Em alguns lugares vi pessoas carregando algum lixo na mão para depositá-lo na primeira lixeira que encontrou. Demonstra que estas pessoas têm nível de conscientização acima da média.

Um grupo de pessoas se reúne no final do domingo para ensinar a língua portuguesa a imigrantes que vieram do Haiti e trabalham em empresas da região. Sou testemunha de um jovem que encontrou uma carteira com documentos e dinheiro, recorreu à internet para descobrir o endereço do proprietário e dois dias depois a devolveu sem aceitar qualquer gratificação. Das cinco reuniões que participei, três começaram rigorosamente no horário marcado. Parece que tantos apelos feitos através dos meios de comunicação, cobranças nas redes sociais e principalmente o desejo de estar o mais afastado possível dos maus políticos e dos bandidos que assaltam o dinheiro público está fazendo com que as pessoas incorporem um desejo oculto de fazer diferente, de vivenciar a ética para não se sentirem culpadas pela corrupção e violência que tomaram conta do país.

O resultado aos poucos está sendo visto, e acredito no efeito multiplicador destas atitudes. Na medida em que testemunhamos uma atitude ética e de respeito ao próximo, somos motivados a fazer o mesmo. Um velho amigo já falecido dizia: o bem faz bem. Fazer o bem aos outros nos faz sentir muito bem, o sentimento de quem não perdeu uma oportunidade de exercitar o dom da solidariedade. 

 

O autor é professor em Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

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