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Editorial

Riscos além do clima

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Excepcionalmente neste ano o rendimento do produtor rural não depende exclusivamente das boas práticas de agricultura e da colaboração do tempo. Há poucos dias começou o plantio da safra de verão em todo o Brasil, mas o grão instalado nas férteis terras brasileiras precisa muito mais que germinar e dar frutos para que o agricultor tenha lucratividade. Em 2018, as eleições no Brasil, o dólar em alta, a guerra comercial entre China e Estados Unidos e a supersafra dos norte-americanos jogam um caminhão de dúvidas aos produtores.

A começar pelo dólar, que valoriza em desabalada carreira nas últimas semanas e encarece os custos de implementação das lavouras. Insumos para adubação e controle de insetos e plantas daninhas geralmente são precificados em dólar e, em sua maioria, importados. Por conta da incerteza que cerca as eleições no Brasil, o dólar não para de subir. Ontem (13) era preciso R$ 4,19 para comprar US$ 1.

Se o câmbio se mantiver assim, o produtor pode ter bons lucros com exportação da oleaginosa. O problema é que, possivelmente, a moeda americana comece a se desvalorizar após as eleições. Em fevereiro, quando a colheita começa, a cotação pode estar novamente abaixo de R$ 3. Já aconteceu movimento similar em eleições anteriores. Nesse cenário o produtor amargará custos altos de produção e preços baixos para a venda da commodity.

Há ainda a guerra comercial travada entre China e Estados Unidos. Em um primeiro momento, a China deve comprar a soja brasileira, o que é bom para o produtor rural, mas guerras comerciais nunca são um bom negócio para ninguém. Os dois gigantes, ao colocar em xeque a liberdade comercial internacional que vem desde o fim da 2ª Guerra Mundial, podem simplesmente diluir a economia de nações inteiras. E o Brasil não está imune a isso.

Por outro lado, os Estados Unidos devem produzir uma safra cheia, fazendo a oferta da soja aumentar e, por consequência mercadológica, seu preço diminuir. Os estoques mundiais estão em níveis altos.

No Oeste do Paraná a safra de verão já começa a ser plantada. A expectativa é que o clima colabore e, mais uma vez, a região e o Brasil produzam uma safra recorde de grãos, próxima ou superior a 120 milhões de toneladas. As expectativas são as melhores possíveis, mas as incertezas são bastante contundentes e reais. É, talvez, a safra mais incerta para o produtor; não pelos riscos climáticos, mas pela incerteza da lucratividade. Quem não fez venda futura está nas mãos do maluco mercado atual.

O mundo moderno, a globalização e a internet estão mudando a agricultura. Se, por um lado, há mais tecnologia e produtividade, por outro, um simples tuíte de Donald Trump é capaz de alterar as bolsas, os preços de commodities em todo o mundo. De um dia para o outro, ou de uma hora para outra, o que era lucro pode se transformar em prejuízo. Agora é torcer para o tempo colaborar e o mundo deixar de ser tão louco.

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