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Elio Migliorança

Rotina de enganação

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O bloco está na rua, mas, ao contrário do imaginado, não estamos falando de blocos carnavalescos, até porque o Carnaval já se foi. Os blocos a que me refiro estarão nas ruas por mais tempo e fazendo mais barulho do que as escolas de samba e assemelhados que abrilhantaram as passarelas recentemente. São os blocos de militantes partidários que avidamente vão caçar votos para os seus candidatos até que seja encerrado o processo eleitoral, o qual vai indicar os novos inquilinos nos palácios governamentais e nas casas legislativas.

E neste processo está em curso um quase “vale tudo”. Será uma verdadeira rotina de enganação, onde os fatos serão distorcidos à maneira que mais convier a cada cor partidária. Fatos irrelevantes serão trazidos para o centro dos debates com o objetivo claro de desviar o foco para os verdadeiros problemas.

Recentemente, o Brasil inteiro parou durante uma semana para discutir o indulto concedido ao deputado Daniel Silveira, um personagem que, pela sua insignificância no contexto nacional, não merecia sequer cinco minutos de atenção. Lamentável tal perda de tempo enquanto o povo tem que decidir entre pagar a conta de luz ou comprar comida.

O Congresso Nacional foi brindado com as inacreditáveis “emendas do relator”, uma afronta ao bom senso nacional, já que em nenhuma outra democracia no mundo existe o tal do orçamento secreto. O mesmo Congresso Nacional, com o intuito de jogar a informação para debaixo do tapete, demorou mais de dois meses para informar ao Supremo Tribunal Federal, quais os destinatários das verbas liberadas, mas a informação foi parcial, já que a resposta só contém 70% das verbas liberadas.

Enquanto o povo discute a segurança das urnas eletrônicas, um tema já esgotado, os combustíveis estão chegando nas alturas, quebrando todos os recordes jamais imaginados.

Semana que passou, pela primeira vez em mais de 50 anos, vimos o preço do óleo diesel superar nas bombas o valor da gasolina. E o que poucos se deram conta é que o preço do álcool sobe na bomba sempre que se reajustam os derivados de petróleo, embora ele seja extraído da cana de açúcar ou do milho.

Enquanto sobra cada vez mais mês no final do salário dos trabalhadores, há cada vez menos compras nos carrinhos dos supermercados, porque os preços dispararam, já que o Brasil é transportado sobre rodas, mas as autoridades criam uma cortina de fumaça e poucos se dão conta de que a Petrobras não é um ente abstrato que está nas nuvens, é uma empresa pública cujo maior acionista é o governo federal, e que com os sucessivos aumentos dos preços dos combustíveis, os Estados e o governo federal arrecadam bilhões em impostos sobre combustíveis.

A saída é privatizar a Petrobras? Mais uma estratégia enganosa. Um processo como este leva muito tempo e o resultado pode ficar pior do que já está, pois sendo empresa do governo, é o governo que a administra e deve pensar na função social, mas quando for privatizada, os novos donos vão pensar no seu lucro e ponto final, não interessa a que preço.

Hora de abrir olhos e ouvidos e filtrar todas as notícias, assim podemos identificar o que é fato e o que é factoide, criado apenas para desviar a atenção dos graves problemas que afetam o presente e podem comprometer o futuro. O momento é de prudência, sabedoria e muito cuidado com o canto da sereia.

 

O autor é empresário rural, professor aposentado e ex-prefeito de Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

 

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