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Arno Kunzler

Salvando o PT

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O PT pode, e provavelmente está tentando, fazer do episódio de espionagem do governo americano uma peça cuidadosamente orquestrada para desviar a atenção do eleitorado brasileiro nas próximas eleições. As constantes reportagens, claramente insufladas de forma deliberada e divulgadas através das grandes redes de TV no Brasil, criam ou podem criar um sentimento antiamericano no eleitorado brasileiro.
O PT tem experiência e espírito para fazer esse tipo de campanha, tranquilamente.
O fato está criado, aparentemente existe, sempre existiu e sempre existirá – as potências mundiais sempre espionaram as demais – assim como qualquer empresa grande tem conhecimento daquilo que pensa e pretendem fazer suas concorrentes.
Essas informações nem sempre são obtidas de forma lícita e oficial; ingênuo é acreditar que as grandes potenciais mundiais não façam isso.
A partir daí, uma série de reportagens cuidadosamente elaboradas e veiculadas em grandes redes de TV respaldam o noticiário que é replicado com a voracidade de qualquer escândalo em todos os veículos de comunicação do país.
Esse pode ser o combustível do PT para a próxima campanha eleitoral, a campanha para reeleição da presidenta Dilma.
O PT já sabe que precisa criar um fato, e um fato que mexa profundamente com a indignação do povo brasileiro para que a próxima campanha não se transforme num mar de manifestações contra o PT, especialmente nas grandes cidades brasileiras.
O PT tenta usar a espionagem para desviar a atenção do povo nas ruas aos desmandos cometidos durante o seu governo.
O pior deles e que mais mancha a sigla é o mensalão.
O alto comando do partido e o seu principal ministro da época José Dirceu foram condenados e deverão, se tudo correr conforme deseja a opinião pública e o Supremo Tribunal Federal (STF), estar cumprindo penas, alguns em regime fechado, durante a campanha.
As grandes obras para a Copa e as Olimpíadas, visivelmente superfaturadas, são outro ponto do qual o partido dificilmente conseguirá desviar os olhos do eleitorado.
As disputas entre índios e agricultores são outro tema que promete esquentar o debate eleitoral e o PT tem posições claramente divergentes, interna e externamente, com a maioria dos seus aliados, sobre a questão.
Para evitar que esses temas possam ferir de morte a candidatura de Dilma e de seus aliados, o PT tenta criar antídotos. Um deles, um sentimento contra alguém poderoso, típico do PT, típico de suas bem-sucedidas campanhas do passado.
Quem não lembra do PT atacando os bancos e as grandes empresas, passando chapéu para fazer doações de campanha… quem diria?
Talvez falar dos seus feitos já esteja um tanto manjado, cansado até.
Não que os feitos não sejam significativos e interessantes, especialmente os programas sociais de distribuição de renda e moradia. Mas tudo cansa.
Em 1994, Fernando Henrique Cardoso se elegeu fácil e depois se reelegeu fácil pregando a estabilidade econômica conquistada pelo Real.
O PSDB até hoje não conseguiu se livrar da pecha das privatizações que o PT plantou na testa do presidente FHC.
O PT sabe que nenhum governo é tão bom que não mereça ser questionado. E o tempo aumenta potencialmente a força das acusações.
E para evitar que os erros e desmandos cometidos se sobressaiam às suas realizações, pode estar, sim, tentando criar um mote para reeleger Dilma.
Algo semelhante ao que Hugo Chávez fez na Venezuela, Evo Morales na Bolívia e os Kirchner na Argentina.

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