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Dom João Carlos Seneme

Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último e servidor de todos

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No evangelho deste domingo (19) Jesus está em caminho junto com os discípulos. Os acontecimentos desta viagem são motivos para catequese do discipulado. A luta pelo poder da parte dos 12 apóstolos acontece na estrada que conduz a Jerusalém e logo após o segundo anúncio da paixão. Mais uma vez o evangelista Marcos escolhe o paradoxo para induzir à reflexão: o caminho que o Filho do homem percorre por amor, o caminho, símbolo do dom de si e do “perder a própria vida”, se torna para os discípulos o espaço onde se luta pelo primeiro lugar.

Os apóstolos têm dificuldade em compreender a missão de Jesus. Para eles, o Messias deveria ser poderoso, sentar em um trono e comandar os destinos da nação. Eles representam a “sabedoria do mundo” e Jesus revela a “sabedoria de Deus”. Duas realidades que não se misturam porque uma acentua o poder, a busca dos primeiros lugares, a competição, enquanto o Messias de Deus fala da cruz, do serviço aos mais fracos.

Saindo de Cesareia de Filipe, Jesus se dirige a Cafarnaum e quer ficar a sós com seus discípulos para ouvi-los e ajudá-los a compreender todos os acontecimentos da viagem. A casa de Pedro em Cafarnaum, onde Jesus se hospeda, fica à margem do lago e ela se torna uma escola para os apóstolos. Os discípulos continuam sem compreender a mensagem de Jesus, porém o seguem porque reconhecem a sua autoridade.

A pergunta de Jesus – “sobre o que discutíeis pelo caminho?” – é constrangedora e reveladora, e por isso os discípulos ficam calados. Não se atrevem a responder porque se envergonham diante de Jesus. O momento é propício para ensinar e introduzi-los nos mistérios de Deus e os valores do Reino que Jesus veio instaurar.

O ensinamento inicia com uma indicação sobre o serviço, seguida pelo gesto de colocar uma criança no meio deles e depois chama a atenção para o acolhimento.

A criança representa a fraqueza que salva: “Se alguém quiser ser o primeiro, seja o servidor de todos”. Jesus, deste modo, propõe um argumento que contraria o modo de pensar dos apóstolos: a salvação do mundo não acontece através dos poderosos, que buscam o seu próprio bem, mas pelas mãos dos últimos, que aceitam por amor o caminho da impotência e do serviço. É o mesmo caminho de Jesus, o Filho do homem, que escolheu o caminho dos últimos no amor manifestado na cruz. A criança é um símbolo de impotência da cruz. Uma impotência que salva.

Aqui está a grandeza de uma comunidade eclesial: colocar no centro os mais necessitados. Neste caso é Jesus o necessitado. A criança é a imagem do caminho de Jesus e de sua escolha em estar ao lado do amor na entrega de sua vida por todos garantindo a salvação.

 

O autor é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

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