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Dom João Carlos Seneme

“Se queres, tens o poder de purificar-me. Eu quero, fica purificado”

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As leituras deste domingo (14) tratam do tema da purificação e as consequências físicas, espirituais e religiosas na vida de uma pessoa doente, obrigada a se afastar do convívio social. É uma situação atual e hoje somos chamados a refletir sobre a exclusão, os tabus que escondem situações humanas trágicas e o amor e a misericórdia de Jesus purificando o leproso e dando condições para que ele retorne à vida social e religiosa.

O Evangelho de Marcos já havia colocado Jesus em contato com os endemoninhados e doentes. Agora é a vez dos leprosos: uma categoria particular de doentes que são desprezados e abandonados.

Um leproso se aproxima de Jesus e, de joelhos, pede que Jesus o purifique. A lepra segregava o homem sofredor da vida comunitária e até mesmo de Deus. Pedindo a purificação, o leproso não implora somente de ser integrado na comunidade dos irmãos, mas também na comunhão com Deus. Só Deus tem poder absoluto sobre as doenças. Jesus, através de suas ações, revela a soberania de Deus. Diante de Jesus se encontra um homem destruído não somente pela doença, mas pelas consequências que ela traz: é impuro, não pode participar da comunidade e da sociedade, pobre, marginalizado, desprezado, repudiado. Enfim, ele é o símbolo concreto da morte.

O leproso procura por Jesus levado pelo desejo de sair da situação de miséria e de marginalidade em que estava mergulhado. Vence o medo de infringir a lei e aproxima-se de Jesus sem respeitar a distância que um leproso devia manter das pessoas sãs. Uma vez diante de Jesus, o leproso é humilde, mas insistente, pois o encontro com Jesus é uma oportunidade que ele não pode desperdiçar. O que ele pretende de Jesus não é apenas ser curado, mas ser “purificado” dessa enfermidade que o torna impuro e indigno de pertencer à comunidade de Deus e à comunidade dos homens. Ele confia no poder de Jesus, sabe que só Jesus pode ajudá-lo a superar a sua triste situação de miséria, de isolamento e de indignidade.

Jesus, de outro lado, também rompe a lei que determina que ninguém pode se aproximar de um leproso, e jamais tocá-lo. O amor de Deus presente em Jesus é mais forte e ele estende a mão e toca aquele homem. Esta atitude revela muito mais que um impulso humano. Jesus é a revelação do amor de Deus e demonstra que aquele homem é amado por Deus e este gesto afetuoso e misericordioso manifesta a vontade de Deus de salvar a humanidade. Neste caso, salva o homem leproso da escravidão em que a doença o havia lançado. Por outro lado, ao tocar o leproso, Jesus infringe a lei. Dessa forma, Ele denuncia uma lei que criava marginalização e exclusão. Jesus, com a autoridade que lhe vem de Deus, mostra que a marginalização imposta pela lei não expressa a vontade de Deus.

O texto evangélico poderia nos ajudar a olhar dentro de cada um e ao nosso redor e perguntar se há ao nosso alcance “leprosos” que vivem desfigurados, escondidos e que precisam ser “purificados” e reintegrados à vida.

Outra atitude que chama a atenção é a humildade do homem que vai até Jesus e lhe implora de joelhos. Ele vence a vergonha, reconhece em Jesus o filho de um Deus bondoso e, por isso, é purificado. Peçamos ao Senhor que nos liberte de nosso orgulho e nos ajude a ser humildes em relação a Deus e aos irmãos.

Daqui a três dias (17 de fevereiro) vamos celebrar a Quarta-feira de Cinzas e iniciar o tempo litúrgico da quaresma. Dia de jejum e abstinência. Tempo propício para rever nossas atitudes e direção de nossas vidas; tempo que vai exigir de nós conversão, humildade, silêncio, oração e caridade fraterna como preparação para celebrarmos com alegria a vida nova na Páscoa.

 

O autor é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

 

 

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