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Dom João Carlos Seneme

“Se queres, tens o poder de purificar-me. Eu quero, fica purificado”

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O Evangelho deste domingo (15) nos coloca mais uma vez na Galileia acompanhando os passos de Jesus. Desta vez é um leproso que se ajoelha diante de Jesus e manifesta a sua fé pedindo que Jesus o “purifique”. Como vimos nos domingos anteriores, só Deus tem poder absoluto sobre as doenças. Jesus, através de suas ações, revela a soberania de Deus. Diante de Jesus se encontra um homem destruído não somente pela doença, mas pelas consequências que ela traz: é impuro, não pode participar da comunidade e da sociedade, pobre, marginalizado, desprezado, repudiado. Enfim, ele é o símbolo concreto da morte.

O leproso procura por Jesus levado pelo desejo de sair da situação de miséria e de marginalidade em que estava mergulhado. Vence o medo de infringir a lei e aproxima-se de Jesus, sem respeitar as distâncias que um leproso devia manter das pessoas sãs. O pormenor dá conta do seu desespero e mostra a sua decisão em mudar a sua triste situação. Uma vez diante de Jesus, o leproso é humilde, mas insistente, pois o encontro com Jesus é uma oportunidade de libertação que ele não pode desperdiçar. O que ele pretende de Jesus não é apenas ser curado, mas ser “purificado” dessa enfermidade que o torna impuro e indigno de pertencer à comunidade de Deus e à comunidade dos homens. Ele confia no poder de Jesus, sabe que só Jesus pode ajudá-lo a superar a sua triste situação de miséria, de isolamento e de indignidade.

Jesus, de outro lado, também rompe a lei que determina que ninguém pode se aproximar de um leproso, e jamais tocá-lo. O amor de Deus presente em Jesus é mais forte e ele estende a mão e toca aquele homem. Esta atitude revela muito mais que um impulso humano. Jesus é a revelação do amor de Deus e demonstra que aquele homem é amado por Deus e este gesto afetuoso e misericordioso manifesta a vontade de Deus de salvar a humanidade. Neste caso, salva o homem leproso da escravidão em que a doença o havia lançado. Por outro lado, ao tocar o leproso, Jesus infringe a lei. Dessa forma, Ele denuncia uma lei que criava marginalização e exclusão. Jesus, com a autoridade que lhe vem de Deus, mostra que a marginalização imposta pela lei não expressa a vontade de Deus.

A atitude de Jesus em relação ao leproso (bem como aos outros excluídos da sociedade do seu tempo) é uma atitude de proximidade, de solidariedade, de aceitação. Jesus não está preocupado com o que é política ou religiosamente correto, ou com a indignidade da pessoa, ou com o perigo que ela representa para uma certa ordem social. Ele apenas vê em cada pessoa um irmão que Deus ama e a quem é preciso estender a mão e amar, também. Jesus toca o homem impuro e não é contaminado, não recebe a impureza do leproso, mas comunica a sua purificação. Jesus toca o leproso com a mão, transmite o Espírito que purifica, que devolve ao ser humano o brilho original do homem criado à imagem e semelhança de Deus.

O texto evangélico poderia nos ajudar a olhar dentro de cada um e ao nosso redor e perguntar se há ao nosso alcance “leprosos” que vivem desfigurados, escondidos e que precisam ser “curados” e reintegrados à vida. Outra atitude que chama a atenção é a humildade do homem que vai até Jesus e lhe implora de joelhos. Ele vence a vergonha, reconhece em Jesus o filho de um Deus bondoso e consegue ser curado. Peçamos ao Senhor que nos liberte de nosso orgulho e nos ajude a ser humildes em relação a Deus e aos irmãos.

Na próxima semana, vamos celebrar a Quarta-feira de Cinzas e iniciar o tempo litúrgico da Quaresma. Dia de jejum e abstinência. Tempo propício para rever nossas atitudes e direção de nossas vidas; tempo que vai exigir de nós conversão, humildade, silêncio, oração, caridade fraterna como preparação para celebrarmos com alegria uma vida nova na Páscoa.

 

* O autor é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

 

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