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Elio Migliorança

SEM MEDIR CONSEQUÊNCIAS

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A prisão de um médico em Cascavel (PR), investigado pela polícia a pedido da Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara de Vereadores, após denúncia de que não cumpria o horário de trabalho conforme seu contrato com a prefeitura, teve vários desdobramentos. Primeiro: colocou a cidade de Cascavel na mídia nacional, uma notoriedade negativa que ninguém quer para sua cidade ou região. Segundo: abriu uma porta para a investigação sobre quais são os maus profissionais que recebem sem trabalhar, e revela à população que paga o salário desses trabalhadores que tem gente ganhando sem trabalhar, o que no linguajar popular se chama roubo. Terceiro: coloca em xeque e exige explicações dos diretores das unidades de saúde, responsáveis pela gestão, coordenação e fiscalização dos horários de trabalho, inclusive dos médicos. Onde estavam estes responsáveis, também pagos pelo contribuinte, que não viram o que estava acontecendo? Ou será que esta epidemia do “não sabia” e “não vi nada” se espalhou pelo país e contaminou inclusive a saúde? Quarto: o mau exemplo do Dr. Jetson Luiz coloca todos os profissionais da saúde sob suspeita, o que é lamentável, pois a maioria, creio eu, cumpre seus horários e atende seus pacientes. Quinto: caça o discurso daqueles que criticam o programa Mais Médicos, do governo federal, pois o que se revela é que além da comprovada falta de estrutura adequada para atendimento da saúde pública, também temos sabe lá quantos profissionais que se prestam a este tipo de ilegalidade, receber sem trabalhar. Certamente os profissionais da saúde que fazem isso pelo Brasil afora não medem as consequências de seus atos. Quantas pessoas podem ter morrido por falta de assistência médica por que o médico não estava lá quando foi procurado? Sei que muitos vão alegar que este é um problema menor e que temos muitos outros problemas mais graves para serem resolvidos neste país. Não concordo, este não é um problema menor, todas as vezes que alguém não cumpre seu dever ou desrespeita a lei, está no caminho da criminalidade. Quando você dirige alcoolizado, também não mede as consequências do que pode ocorrer em caso de acidente. Sim, porque dirigir alcoolizado também é ilegal e pode provocar uma tragédia. Ao desrespeitar a lei de trânsito você pode decretar a morte ou irreparável prejuízo de outros que estão na mesma rodovia. Numa viagem recente, vi o desespero de um motorista de caminhão que havia capotado seu caminhão para desviar de um carro pequeno onde estavam quatro pessoas e que vinha ultrapassando onde não devia. Salvei a vida de uma família dizia o motorista, e aquele infeliz nem parou para agradecer ou para me socorrer, e o meu caminhão está aí destruído, é o meu ganha pão, e não tenho seguro. Aquele que ultrapassou onde não devia não mediu as consequências de seu ato. Quantas pessoas terão morrido por que os corruptos desviaram o dinheiro que devia ser aplicado na compra de medicamentos? Quantos terão morrido nas estradas do Brasil por que o dinheiro que devia ser aplicado em melhorias foi roubado? E quantos administradores incompetentes ou vingativos deixaram de fazer uma obra por interesse político? Crime não é só quando se faz algo errado, mas também quando não se faz o que devia ser feito.
* O autor é professor em Nova Santa Rosa
miglioranza@opcaonet.com.br

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