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Elio Migliorança

Suspiro cultural na pandemia

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Esta geração gastará muito tempo para explicar às gerações futuras o que vivenciou e aprendeu durante a pandemia no ano de 2020 e sabe-se lá Deus por quanto tempo ainda.

De repente fomos tirados da zona de conforto. Projetos foram adiados e outros foram destruídos ou abandonados e uma nova forma de viver passou a ditar o ritmo da sociedade. O povo dividiu-se entre os que acreditavam na gravidade da doença e aqueles que desdenharam sua agressividade, provocando acalorados debates e mútuas agressões, comprometendo, em muitos casos, a estabilidade familiar.

Os aproveitadores de plantão logo procuraram meios para levar vantagem na exploração ao próximo que necessitava de material de proteção individual, enquanto outros simplesmente deram de ombros como se nada lhes dissesse respeito.

E enquanto a vida segue para quem sobreviveu, já que o número de falecidos rompeu a barreira dos 100 mil, os sobreviventes aos poucos foram digerindo a nova forma de viver, com risco de contágio em cada esquina, e rompendo as barreiras que os separavam da vida normal, um novo normal que ainda não temos clareza de como será. Nesta caminhada, semana passada fui testemunha de um momento cultural significativo que fez os presentes mergulharem no passado e esquecerem das agruras pandêmicas, e saborearem um pouco da cultura e das tradições de Nova Santa Rosa.

Depois de muitos anos relegado ao descaso e esquecimento, foi concluído o projeto de reforma e remodelação do Museu Municipal Dom Severino Kögl. Foi como entrar no túnel do tempo e recordar o passado lembrando daqueles que ajudaram a construir o presente que estamos vivendo. Nas palavras proferidas em 29 de abril de 1988 em seu discurso de inauguração, o homenageado Dom Severino definiu bem o que é um museu para quem valoriza a cultura: “Para nós, este museu é muito mais. Não é um simples depósito de objetos antigos sem valor comercial. Não é um cemitério com peças inertes. Estes objetos aqui guardados vivem e falam para o visitante, principalmente para a juventude. Lembram-vos da vida dura dos vossos pais, avós e bisavós. Este museu é uma escola que ensina a história dos vossos antepassados, ensina a estimar e honrar nossos avós. Nosso museu é um santuário. Cada objeto é uma relíquia que o suor e as lágrimas dos vossos predecessores santificaram”.

Embora com pequena parcela de pessoas presentes, foi um breve suspiro cultural em meio à pandemia que nos fez lembrar que a vida vai continuar e que é preciso cuidar de todos os aspectos da vida da comunidade, inclusive do espaço cultural.

A menos que um milagre aconteça, todos aqueles que lerem este artigo terão morrido daqui a 100 anos. E isto significa que tudo o que temos hoje lá adiante será uma parcela da história que já passou. Enquanto muitos prefeitos focados na próxima eleição estão preocupados com obras de impacto visual, merecem aplausos os envolvidos no projeto de restauração do Museu, especialmente aqueles que formaram a linha de frente e durante três anos, com assessoria de profissionais qualificados, formataram nossa preciosa história dentro de padrões qualificados da museologia nacional.

Não esqueçamos: povo que não tem memória, não tem história. Se recordar é viver, semana passada vivemos intensamente nossas raízes e a memória de nossos antepassados.

 

O autor é professor em Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

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