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Elio Migliorança

TEMA INDIGESTO

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O tema abordado neste espaço na última quarta-feira (17) motivou manifestações e contribuições de leitores porque colocou no centro da discussão a educação e a segurança, peças fundamentais na vida de todos. Um leitor enviou-me cópia da carta que um professor escreveu a um jornalista de Porto Alegre e que tem o seguinte teor: “Meu nome é Maurício Girardi. Sou físico. Pela manhã sou vice-diretor no Colégio Estadual Piratini, em Porto Alegre, onde à noite leciono a disciplina de Física. Olha só o que me aconteceu: estou eu dando aula para uma turma de segundo ano. Talvez pela entrada do inverno, resolveu também ir à aula uma daquelas alunas ‘turistas’, que aparece uma que outra vez para ‘fazer uma social’. Para rever os conhecidos. Por três vezes tive que pedir licença para a mocinha para poder explicar o conteúdo que abordávamos. Parece que estão fazendo um favor em nos permitir um espaço de fala. Eis que após insistentes pedidos, estando eu no meio de uma explicação que necessitava bastante atenção, toca o celular da menina, interrompendo todo um processo de desenvolvimento de uma ideia e prejudicando o andamento da aula. Mudei o tom do pedido e aconselhei aquela menina que, se objetivo dela não era o de estudar, então que procurasse outro local, que fizesse um curso a distância ou coisa do gênero, pois ali naquela sala estavam pessoas que queriam aprender e que o colégio é um local onde se vai para estudar. Então, a ‘estudante’ quis argumentar, quando falei que não discutiria com ela. Neste momento tocou o sinal e fui para a troca de turma. A menina resolveu ir embora e desceu as escadas chorando por ter sido repreendida na frente de colegas. De casa, a mãe da menina ligou para a escola e falou com o vice-diretor da noite, relatando que tinha conhecidos influentes em Porto Alegre e que aquilo não iria ficar assim. Em nenhum momento procurou escutar a minha versão nem mesmo para dizer, se fosse o caso, que minha postura teria sido errada. Tampouco procurou a diretora da escola. Qual passo dado pela mãe? Polícia Civil! Isso mesmo, tive que comparecer na oitava delegacia de polícia de Porto Alegre para prestar esclarecimento por ter constrangido (?) uma adolescente (17 anos) que muito pouco frequenta a aula e quando o faz é para importunar, atrapalhar seus colegas e professores. A que ponto que chegamos? Isso é um desabafo. Tenho 39 anos e resolvi ser professor porque sempre gostei de ensinar, de ver alguém se apropriar do conhecimento e crescer. Mas te confesso, está cada vez mais difícil. Sinceramente, acho que é mais um professor que o Estado perde. Tenho outras opções no mercado. Em situações como essa, enxergamos a nossa fragilidade frente ao sistema”.
Casos como este são comuns nas escolas de nossa região, que, se não chegam à polícia, criam enormes constrangimentos e discussões muitas vezes ofensivas de pais contra professores. Nos surpreendemos quando filhos tramam a morte dos próprios pais. Não sabem os pais que um assassino começou a ser “construído” quando os pais defenderam os erros dos seus filhos ao invés de estabelecer regras e impor limites. Eduquemos as crianças e não será necessário castigar os homens. Caros pais: o que plantarmos, colheremos.

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