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Elio Migliorança

TERRA ARRENDADA

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É comum em nossa região a figura do arrendatário, aquele que paga uma certa importância em dinheiro ou produto pelo uso da terra que não lhe pertence. E na maioria dos casos o arrendatário procura extrair o máximo da terra, para obter maior lucro, investindo o estritamente necessário para a produção. Normalmente o arrendatário não faz investimento de médio e longo prazo, afinal, quando vence o arrendamento, ele devolve a terra ao proprietário e com isso ele não aproveita o resultado de um investimento de longo prazo. Lamentavelmente criou-se no Brasil a cultura da administração pública estilo “terra arrendada”. Embora muitos não gostem de ler isto, todos somos vítimas deste vÍcio. Sim porque as consequências nos atingirão, independente da cor, raça ou posição social.
A prova mais eloquente disso foi o recente “apagão”, atrás do qual vieram tantas mentiras para justificar o injustificável, e a verdadeira razão foi escondida pelas autoridades. Pior. Não importa a que “partido” as autoridades pertencem, via de regra, todas mentem. No apagão de 1999 foi a mesma história. Raio, não raio, explicações desconexas, e mais tarde foram descobertas as verdadeiras razões, em nada diferentes das apresentadas agora. Após o incidente deste ano, os veículos de comunicação apresentaram muitas entrevistas com técnicos da área, os quais foram unânimes em afirmar que o apagão foi consequência de: falta de planejamento, falhas de gestão, excesso de burocracia. Itaipu foi construída inicialmente com 12 turbinas, atualmente tem 18, e as redes de transmissão continuam as mesmas, milhões de novas ligações depois. A sobrecarga no sistema é real e novos acidentes podem ocorrer a qualquer momento. Uma questão levantada por alguém humilde que fez a pergunta maiúscula: quantas pessoas morreram com o “apagão”? Em princípio ninguém, conforme as informações que temos. Pois é, disse ele, então porque as centenas de mortes diárias ocorridas pelo “apagão” da saúde pública não são notícia? E logo acrescentou: porque os que estão morrendo são pobres, que não têm voz e nem vez. Estes não são notícia, são contabilizados como “despesa encerrada”.
Por outro lado, como o “apagão” atingiu também os que moram no andar superior do prédio Brasil, financiadores de campanhas políticas, imprensa etc. ouviu-se um barulho ensurdecedor abaixo e acima da Linha do Equador. Infelizmente coisas parecidas ocorrem em larga escala nas administrações estaduais e municipais. Obras cujo resultado se obtém a médio e longo prazo são deixadas de lado e priorizadas as que dão retorno eleitoral imediato. Como o tempo passa rápido, administra-se com o olhar fixo no espelho retrovisor. 
Outro descaso criminoso é a conservação de estradas. Um capital gigantesco foi investido na construção e agora abandonado à própria sorte, má sorte que atinge principalmente os motoristas que vivem do trabalho pelas estradas do Brasil. Pagaremos caro no futuro pela má gestão e pelo descaso em investimentos na infraestrutura. Culpados os administradores e culpados todos nós que votamos naqueles que prometem o resultado imediato. Não valorizamos os investimentos para as futuras gerações.

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