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Dom João Carlos Seneme

Teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado

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Estamos no 4º domingo da Quaresma, Domingo da Alegria. Cada vez mais perto da grande celebração do sentido da nossa fé, o mistério pascal de Jesus: sua paixão, morte e ressurreição é também nossa paixão, morte e ressurreição: Se com Cristo morrermos, “com Ele também ressuscitaremos”. Hoje vamos ler e refletir a bonita e conhecida página de São Lucas: a parábola do filho pródigo ou do pai misericordioso.

O Evangelho apresenta-nos o Deus-Pai que ama de forma gratuita, com um amor fiel e eterno, apesar das escolhas erradas e da irresponsabilidade do filho rebelde. Ama com amor que está sempre à espera da volta do filho. Não impõe condições, quer apenas o filho de volta: para acolher e abraçar o filho que decide voltar. É um amor entendido como misericórdia e não como justiça. A parábola nos apresenta três personagens: o pai, o filho mais novo e o filho mais velho.

No centro se encontra o pai. Trata-se de uma figura excepcional, que conjuga o respeito pelas decisões e pela liberdade dos filhos, com um amor gratuito e sem limites. Seu amor se manifesta na emoção com que abraça o filho que volta, mesmo sem saber se esse filho mudou a sua atitude de orgulho e de autossuficiência em relação ao pai e à casa. Trata-se de um amor que permaneceu inalterado, apesar da rebeldia do filho; trata-se de um pai que continuou a amar, apesar da ausência e da infidelidade do filho. A acolhida sem limites do pai se manifesta no símbolo do anel e nas sandálias, que é o calçado do homem livre.

Depois, vem o filho mais novo. É um filho ingrato, insolente e obstinado, que exige do pai muito mais do que aquilo a que tem direito. Além disso, abandona a casa e o amor do pai e dissipa os bens que o pai colocou à sua disposição. É uma imagem de egoísmo, de orgulho, de autossuficiência, de frivolidade, de total irresponsabilidade. Acaba, no entanto, por perceber o vazio, o sem sentido, o desespero dessa vida de egoísmo e de autossuficiência e por ter a coragem de voltar ao encontro do amor do pai.

Finalmente, temos o filho mais velho. É o filho “certinho”, que sempre fez o que o pai mandou, que cumpriu todas as regras, mas  nunca experimentou o amor de filho, simplesmente obedecia. Vivia sob a lógica da justiça, do certo e errado. Não vive o sentido pleno da misericórdia. Ele acha que tem créditos superiores aos do irmão e não compreende nem aceita que o pai queira exercer o seu direito à misericórdia e acolha, feliz, o filho rebelde. É a imagem desses fariseus e escribas que interpelaram Jesus: porque cumpriam à risca as exigências da Lei, desprezavam os pecadores e achavam que essa devia ser também a lógica de Deus. A “parábola do pai bondoso e misericordioso” quer nos revelar o verdadeiro amor de Deus. Deus é o Pai bondoso, que respeita absolutamente a liberdade e as decisões dos seus filhos, mesmo que eles usem essa liberdade para procurar a felicidade em caminhos errados; e, aconteça o que acontecer, continua a amar e a esperar ansiosamente o regresso dos filhos rebeldes.

Quando os reencontra, acolhe com amor e os reintegra na sua família. Essa é a alegria de Deus. É esse Deus de amor, de bondade, de misericórdia, que se alegra quando o filho regressa que nós, às vezes filhos rebeldes, temos a certeza de encontrar quando voltamos. A parábola pretende ser também um convite a nos deixar arrastar por esta dinâmica de amor no julgamento que fazemos dos nossos irmãos. Ninguém se converte ou muda de vida pelo castigo, mas pela acolhida e misericórdia.

Em que situação nos encontramos diante dos irmãos: buscamos mais a justiça ou a misericórdia? Não tenhamos medo de perdoar e acolher nossos irmãos pecadores. Recordemos os pecadores que foram acolhidos por Jesus. Eles não voltaram a pecar, tornaram-se seguidores de Jesus.

 

* O autor é bispo da Diocese de Toledo

 

revistacristorei@diocesetoledo.org

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