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Elio Migliorança

TOFFOLI E EU

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Há dois brasileiros que possuem algumas semelhanças e muitas diferenças. Trata-se de José Antonio Dias Toffoli, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral, um brasileiro hoje com muito poder, e eu, um ilustre desconhecido, professor aposentado, agricultor por opção, atuante no movimento de cursilhos de cristandade e nas horas vagas vice-presidente da Sicredi Oeste com sede em Toledo. A única semelhança é que somos brasileiros, porém as diferenças são muitas. Eu me tornei professor estadual via concurso público concorrendo com milhares de outros candidatos. Ele prestou concurso público duas vezes para o cargo de juiz substituto no Estado de São Paulo e foi reprovado em ambos. Tornou-se ministro do STF não pela competência, mas por ser amigo, filiado ao mesmo partido e ter atuado como advogado nas campanhas eleitorais de Lula para presidente. Na linguagem popular, um dos bajuladores de plantão. Eu sou radicalmente contra a corrupção, já Toffoli absolveu vários corruptos no processo do mensalão, sempre favorecendo os “companheiros” que haviam sido flagrados desviando milhões dos cofres públicos.

Outra grande diferença está em nossa folha de pagamento. O que eu recebo durante um ano ele recebe mensalmente. Além de um salário muito maior, ele também tem mais cabelo e barba do que eu; ambos temos CPF, RG e título eleitoral, mas quando partimos para o campo das ideias, nossas diferenças são como as existentes entre um terráqueo e um extraterrestre. Em recente entrevista ele defendeu a redução do tempo de campanha; eu defendo a manutenção do tempo atual porque ele permite a gente conhecer melhor os candidatos, embora eles ainda consigam enganar a maioria da população com mentiras bem elaboradas pelos marqueteiros. Ele pediu para ser transferido para a turma do STF que vai julgar os denunciados da Operação Lava Jato e vai presidir aquela turma por um ano, cujos denunciados são da base de sustentação do governo a quem ele deve o cargo que possui; eu já acho que ele deveria ficar afastado deste julgamento para o bem do país, já que é suspeitíssimo ao julgar aqueles que lhe deram o cargo que ele não fez por merecer.

Ele defende a redução do número de partidos políticos; eu defendo apenas o fim do fundo partidário pago aos partidos, já que ele é pago com nossos impostos. Ele defende a contribuição das empresas nas campanhas políticas; eu sou contra, e se a contribuição das empresas for mantida, então que a empresa possa doar somente para um partido. Eu ainda defendo a proibição de doação pelas empresas que possuem qualquer tipo de contrato com o governo, seja municipal, estadual ou federal. Quando gente como Dias Toffoli e Ricardo Lewandovski se tornam ministros do STF é que a gente entende o que significa o “aparelhamento do Estado”, que é colocar gente de confiança em cargos estratégicos que podem amenizar o julgamento dos “amigos do rei” e colegas de partido do passado. E neste caso também se enquadra o “auxílio-moradia” e outras benesses concedidas ao Judiciário; os deputados aprovam a mordomia e o governo sanciona a lei na esperança de um julgamento mais light quando chegar a hora da “onça beber água”.

 

* O autor é professor em Nova Santa Rosa

 

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