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Elio Migliorança

Traídos pelo peleguismo

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Descobrir uma traição é horrível e o resultado é raiva e decepção. Um relatório apresentado no último sábado (17) durante a assembleia de uma associação que reúne avicultores do Oeste do Paraná revelou um golpe baixo que prejudicou uma das mais importantes classes produtoras do país em benefício de meia dúzia de pelegos sindicais que levaram vantagem com o resultado obtido.

Antes de relatar o fato é importante esclarecer que “peleguismo” é um termo depreciativo utilizado no jargão do movimento sindical para se referir aos líderes ou representantes de um sindicato que, em vez de lutar pelo interesse dos trabalhadores, defendem secretamente os interesses do empregador, ainda que tal atitude seja cedo ou tarde descoberta.

Há um ano o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou uma questão vital para o agronegócio brasileiro, o pagamento do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural), o qual estava suspenso por uma liminar do próprio STF que na votação reativou a cobrança. A partir daí começou um longo debate sobre a mudança de posição de alguns ministros, entre uma votação e outra, o que levantou a suspeita de ser uma decisão política e não fundamentada na legislação. O fato é que durante o ano o debate tomou conta dos eventos em que agricultores estavam presentes, debate também da cobrança sobre a produção dos últimos cinco anos.

É um tema delicado, pois milhares de agricultores que estão fora dos padrões estabelecidos para a aposentadoria pelo Funrural são obrigados a contribuir mesmo assim. Seria racional que ficassem isentos da cobrança aqueles que jamais poderão se beneficiar com uma aposentadoria. Embora o percentual atual de 1,5% sobre a produção bruta, antes era 2,3%, pareça pequeno, é importante frisar que o cálculo é sobre o valor bruto da produção, donde se conclui que mesmo que sua produção tenha dado prejuízo, terá que pagar o imposto total, já que ele não leva em conta as despesas da produção.

O “beijo de Judas” foi dado pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), a qual representa os sindicatos e federações em âmbito nacional. Enquanto as representações do agronegócio se posicionavam contrárias à cobrança do Funrural, a CNA enviou um documento ao STF apoiando e aprovando a cobrança daquele tributo sobre o valor bruto da produção. A revelação do golpe perpetrado pelos pelegos de gravata, feita no último sábado durante assembleia da Associação dos Avicultores do Oeste do Paraná, realizada em Toledo, desmascarou aqueles que diziam defender o agronegócio brasileiro, a atividade econômica mais eficiente do país, quando na verdade estavam defendendo as suas mordomias que rendem banquetes e passeios aéreos mundo afora, pois daquela porcentagem cobrada de Funrural, que é 1,5%, uma parte, ou seja 0,2%, é destinada ao Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), administrado pela CNA, e que representa em torno de R$1 bilhão anual, dinheiro nada desprezível e por conta do qual os dirigentes da CNA acharam que valia a pena fazer igual a Judas e trair os agricultores do Brasil, a quem eles deviam estar defendendo.

Foi uma facada pelas costas que nos ensinou que traição e corrupção não é monopólio da classe política, pode estar em qualquer lugar, mas a vítima sempre é você.

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