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Dom João Carlos Seneme

Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja

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Celebrar a festa dos santos apóstolos Pedro e Paulo é para nós reverenciar a figura de dois grandes seguidores de Jesus Cristo e fazer uma solene profissão em favor da Igreja una, santa, católica e apostólica. É o sinal de Pentecostes que une todas as línguas e forma um único povo, a família de Deus. Ao celebrarmos num mesmo dia a festa destes dois mártires, tão diferentes entre si, mas unidos pelo mesmo amor à pessoa de Jesus, amor que os levou a dar a vida para que o Evangelho fosse conhecido, nós celebramos a diversidade da Igreja e o desafio de construir a comunhão eclesial. O prefácio da missa deste domingo (28) dá uma breve descrição dos apóstolos que celebramos. “Pedro, o primeiro a proclamar a fé, fundou a Igreja primitiva sobre a herança de Israel. Paulo, mestre e doutor das nações, anunciou-lhes o Evangelho da salvação. Por diferentes meios, os dois congregaram a única família de Cristo e, unidos pela coroa do martírio, recebem hoje, por toda a terra, igual veneração”. Em poucas linhas, a liturgia nos oferece uma descrição, não só dos dois apóstolos, colunas fundamentais da fé cristã, mas também do início da Igreja. São exemplos que podemos encontrar em qualquer comunidade cristã fiel ao Evangelho. Pedro e Paulo, no contexto de nossa celebração, não são apenas dois indivíduos que responderam ao chamado de Cristo, mas simbolizam a resposta afirmativa de toda Igreja ao projeto de amor de Deus Pai. Através do Novo Testamento, nós podemos reconstruir o itinerário de suas vidas e perceber a gratuidade da escolha divina. Pedro era um pescador da Galileia, trabalhava com o pai, Jonas, e o irmão, André, no lago de Tiberíades. Foi precisamente numa tarde enquanto lançava as redes para a última pescaria que passou por ali Jesus e o chamou e a seu irmão: “Vinde após mim; eu vos farei pescadores de homens” (Mc 1,17). Desta forma teve início sua caminhada: seguir o Mestre, da Galileia à Judeia; daqui, depois da morte de Jesus, andou pela Palestina até chegar em Roma. Ali viveu como líder da nova comunidade fundada por Jesus: “Sobre esta rocha, edificarei a minha Igreja”. Por isso a cátedra de Pedro foi edificada sobre o seu túmulo onde hoje está a Basílica de São Pedro, símbolo da unidade da Igreja Católica. Pedro continua sendo a rocha sobre a qual Cristo vai construindo misteriosamente sua Igreja, o sinal da unidade para todos os que invocam o nome do Senhor. Paulo fez um caminho diferente. É chamado por Jesus no caminho de Damasco: “Paulo, Paulo, por que me persegues? (At 9,4). A partir daquele dia sua vida se transformou e passou de perseguidor da Igreja nascente a um apaixonado por Jesus Cristo: “O amor de Cristo me impele” (2Cor 5,14). Abriu-se aos pagãos e procurava anunciar a boa-nova de Jesus em todos os lugares, pregando aos judeus e aos pagãos. Por onde passava fundava novas comunidades. A espiritualidade destes 20 séculos de cristianismo nutriu-se do ardor da fé e do amor de Paulo. Os primeiros cristãos iam ao martírio levando escondidas, sobre o peito, suas cartas. Santo Agostinho se converteu ouvindo um trecho de uma de suas cartas. “Nós mesmos, a cada domingo, nos nutrimos de seu extraordinário conhecimento de Cristo” (Pe. Cantalamessa). Acompanhando a história desses dois homens, podemos perceber Deus traçando o seu plano de salvação e contando com a generosidade humana para concretizá-lo. A Igreja é a comunidade daqueles que se unem a Pedro ao proclamar a fé em Jesus Cristo: “A quem iremos Senhor? Só tu tens palavras de vida eterna”. Quem edifica a Igreja é Cristo. É ele que escolhe livremente um homem e o põe na base do edifício. Nós conhecemos a fragilidade de Pedro, seu medo, mas também sua generosidade em deixar tudo para seguir Jesus. Por isso, ele é um instrumento nas mãos de Deus e se torna símbolo da unidade: “Onde está Pedro, ali está a Igreja” (Santo Ambrósio). Neste dia vamos rezar por toda a Igreja espalhada pelo mundo de modo especial pelo nosso papa Francisco. Que os exemplos dos apóstolos e dos primeiros cristãos, que foram fiéis a Cristo, estimulem uma fidelidade mais profunda ao Evangelho. Rezemos também por aqueles que sofrem perseguição por causa de sua convicção religiosa e testemunho. Que eles encontrem apoio e proteção em meio aos riscos que correm por professar sua fé e amar a Igreja.
* O autor é bispo da Diocese de Toledo
revistacristorei@diocesetoledo.org

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