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Arno Kunzler

Tudo e todos em xeque

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Os tempos atuais tornam produtos, serviços e pessoas passíveis de julgamentos e avaliações em tempo real.

A análise que faço se refere mais ao jornalismo, mas poderia ser na área da medicina, advocacia, serviços públicos, sistema financeiro, Judiciário, agronegócio e tudo que se possa imaginar.

Somos avaliados constantemente e com a força muitas vezes de quem não está próximo de nós, quem apenas julga e não sabe sequer um passo da nossa trajetória e nem o que sentimos.

É notório que todos esses setores estão em discussão, mas me parece mais relevante neste momento a discussão sobre o papel da imprensa.

Qual, afinal de contas, é o limite do jornalismo?

O que o bom senso recomenda que o bom jornalismo faz publicar e, principalmente, o que deixar de publicar?

Tenho certeza que todos os jornalistas em atividade se questionam com frequência sobre o seu papel e certamente todos encontram parâmetros diferentes.

Assim como as pessoas que nos julgam também produzem sentenças diferentes sobre o que nós produzimos de conteúdo, o que simplesmente compartilhamos e mais do que isso, aquilo que deixamos de publicar ou compartilhar.

Percebemos facilmente que há um universo de “especialistas” falando do papel da imprensa, julgando jornalistas, como se a vida toda estivessem vivendo dessa profissão.

Alguns ajudam muito com observações criteriosas e bem-intencionadas, outros fazem pior que os jornalistas que eles condenam.

Até o Silvio Santos, com seus míseros percentuais de audiência do seu jornalismo, dá seus palpites, dando a exata dimensão dessa discussão.

Eu, com meus 40 anos de atividade, não sei dizer com exatidão o que devemos e como devemos ou não divulgar cada reportagem, tamanha a dificuldade de se estabelecer limites para atuação jornalística.

Não se pode pre-estabelecer condições para escrever uma reportagem; isso depende das fontes e do faro jornalístico de quem está à frente.

No nosso caso, temos um roteiro que seguimos há muito tempo.

Os assuntos são pautados por uma equipe e de acordo com a disponibilidade são produzidas as reportagens.

Não fazemos jornalismo investigativo e nem opinativo, apenas queremos ser fiéis aos fatos que divulgamos e compromissados com a notícia. Publicamos, sim, colunas e artigos, que, neste caso, têm opiniões de colunistas e articulistas.

Respeitamos muito quem faz jornalismo investigativo e opinativo e achamos até que os grandes veículos de comunicação cumprem ou deveriam cumprir esse papel extremamente importante de investigar e não deixar que governos ou organizações consigam varrer a sujeira por debaixo dos tapetes.

Tudo indica que o Brasil neste momento está em guerra com o jornalismo investigativo, porque grande número de pessoas acreditam que ele foi e está sendo mal-usado.

Que os veículos utilizam o jornalismo investigativo para amedrontar políticos a agirem a seu favor.

É bem provável que tenhamos assistido a muito mais desacertos do que acertos nos grandes canais de comunicação, o que produziu essa revolta popular da qual nós, pequenos veículos, rádios, jornais e tevês, também não escapamos.

De nossa parte, Jornal O Presente, podemos afirmar que estamos muito atentos aos anseios dos nossos leitores e estejam certos que saberemos reconhecer as falhas e mudar a direção se isso for necessário.

Nunca tivemos a pretensão de ser os donos da verdade, nunca fizemos jornalismo para destruir a reputação de alguém e nunca tivemos ao lado de políticos atacando seus adversários.

Sempre que alguém se sentiu atingido ou ofendido por alguma matéria publicada em nossos veículos, não precisou de apelo judicial para ter direito de resposta.

Acho sincera e humildemente que os grandes veículos de comunicação, inclusive do senhor Silvio Santos, que agora sentou à janela, também devem fazer esse exame de consciência e descobrir qual é o seu verdadeiro papel.

Da mesma forma como ele, Silvio Santos, acha que jornalista não deve opinar e nem investigar, que isso é papel apenas da polícia, eu também acho que jogar notas de R$ 100 aos montes, num plenário repleto de histeria para abocanhá-las, não é papel de uma rede de televisão.

E agora?

 

Arno Kunzler é jornalista e diretor do Jornal O Presente e da Editora Amigos da Natureza

arno@opresente.com.br

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