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Dom João Carlos Seneme

Tudo é vosso, vós sois de Cristo, Cristo é de Deus

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O texto de hoje é continuação de domingo passado. Jesus está em casa com os seus discípulos e aproveita para ensinar, rever atitudes e apresentar recomendações para aqueles que desejam segui-lo como discípulo missionário. Sabemos como é difícil mudar comportamentos, mentalidades. Com os discípulos acontece o mesmo. Eles vivem numa sociedade patriarcal onde as mulheres e as crianças contam pouco. É neste contexto que devemos situar o Evangelho deste domingo.

Cada instante é uma oportunidade para conversão, abrir os olhos para ver o mundo com olhos diferentes. Hoje Jesus fala da acolhida aos mais frágeis que podem perder a fé por causa de atitudes inadequadas e violentas. Jesus pede acolhimento, igualdade e carinho em relação a todos.

O texto começa com João dizendo que há pessoas, fora da comunidade, que usavam o nome de Jesus para expulsar os demônios. Eles são impedidos “porque não anda conosco”. Jesus repreende João e afirma que o que importa é fazer o bem, não interessa se pertence a este grupo ou aquele. Ninguém tem o monopólio de Deus! Jesus prega a tolerância e o resultado final da ação que se é boa e promove o bem deve ser sempre realizada sem empecilhos.

Jesus continua falando sobre o escândalo aos mais frágeis. Escândalo é algo que faz tropeçar e cair, que desvia a pessoa do bom caminho. Escandalizar os pequenos é ser motivo pelo qual eles se desviam e perdem a fé em Deus. O assunto é a fé. É agravante o fato de as vítimas serem “os pequenos que creem”. Isto explica a gravidade da pena. Depois Jesus diz que o mal pode estar dentro de nós mesmos, que pode dificultar a própria vida de fé e induzir a pessoa ao pecado, ao afastamento de Deus. O olho que olha cobiçando, a mão que pega o proibido, o pé que anda no mau caminho. Tudo isso indica a gravidade de perder a fé ou de induzir outra pessoa a fazer o mesmo. O modo de se expressar tem a ver com o jeito de escrever da época, não pode ser tomado ao pé da letra. Os castigos apresentados no texto indicam que a pessoa em sua totalidade (olho, mãos, pés) deve ser radical na opção por Deus e pelo Evangelho.

Jesus emprega imagens extremamente duras na intenção de que cada um elimine de sua vida tudo aquilo que se opõe a Deus e seu projeto. Nossa existência deve construir pontes que unam as outras pessoas entre si como irmãos e a Deus como filhos. Está em jogo entrar no Reino de Deus ou ficar excluído, entrar na vida ou terminar longe dela.

O evangelho não deve nos assustar, mas estimular a compreender que o bem não é propriedade de nenhum grupo. A vitória do bem é atribuída ao poder de Jesus Cristo ressuscitado agindo em tudo e por meio de todos. A manifestação de nossa fé deve ajudar outras pessoas a buscar o sentido da vida que se encontra em seguir Jesus Cristo, procurando fazer o que ele fez. O exemplo mais bonito que temos é a atitude do samaritano quando encontra aquele homem ferido; não importa quem ele é, o que interessa é que ele precisa de ajuda. Ao morrer na cruz, Jesus entregou sua vida por todos, sem distinção: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10).

 

Dom João Carlos Seneme é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

 

 

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