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Elio Migliorança

Um fio de esperança

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Numa tarde de inverno de 2018, enquanto o carro serpenteava pelas curvas da BR-467, o rádio apresentava a primeira entrevista com um candidato a senador, até então um ilustre desconhecido. Aos 73 anos de idade, informou que havia vendido o grupo Positivo, empresa de sua propriedade, por algumas centenas de milhões de reais e que pretendia uma cadeira no Senado da República para dar a sua contribuição ao país e ao povo brasileiro. Fez um rápido cálculo mostrando que não se candidatava por dinheiro, já que aquela venda garantia o resto de seus dias de vida com tranquilidade. A intenção era realmente contribuir com a moralização da política nacional. Isso me fez refletir bastante e acabou decidindo meu voto.

O professor Oriovisto era o entrevistado daquele dia e até hoje ainda não me decepcionou. Ao contrário, tenho acompanhado atentamente sua postura e seus votos no Senado e até o momento estou convencido que a proposta colocada naquela primeira entrevista está sendo cumprida.

No momento em que este artigo é publicado, corre nos bastidores do Senado e da Câmara dos Deputados um movimento para um ato casuístico em proveito de alguns e, claro, em prejuízo da racionalidade e do bom senso democrático. O ato casuístico é a manobra para permitir a reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado.

A lei atual não permite a reeleição, pois quando foi feita prevaleceu o bom senso, isto é, promover a alternância no poder. Os iluminados que hoje ocupam aquele cargo acham que são os únicos capazes de fazer o povo brasileiro feliz e por isso buscam caminhos, mesmo escusos, que permitam sua reeleição para o cargo de presidente das duas casas legislativas.

O senador Oriovisto, percebendo a esperteza safada, contra-atacou com uma proposta inteligente. Aceita a manobra casuística desde que o presidente do Senado entregue três felicidades ao povo brasileiro, na forma de projetos que estão perdidos nas gavetas da Presidência do Senado e que podem ser aprovados caso sejam colocados para debate e aprovação do plenário.

O primeiro é que a reeleição para a presidência do Senado seja aprovada, mas passe a valer somente para a próxima legislatura, não beneficiando o atual presidente. O segundo é a votação da prisão após a condenação em segunda instância e o terceiro é a votação do projeto que extingue o foro privilegiado, projeto já aprovado no Senado, mas que está parado na Câmara.

Caso estes três projetos sejam aprovados, um avanço no combate à corrupção, seria razoável pagar o preço do casuísmo e permitir a reeleição dos presidentes do Legislativo.

A postura do senador Oriovisto é um fio de esperança aceso no coração dos paranaenses de que ainda existem pessoas que não se deixam contaminar pela política e que não consideram as promessas de campanha uma fábula que não merece respeito, até porque, naquela mencionada entrevista, o então candidato declarou ser contra a reeleição e que não postularia ser reeleito. Cumpriria um mandato e deixaria o lugar para alguém dar continuidade ao trabalho, favorecendo a alternância no poder. Isso é o que ainda comprovaremos no término dos seus oito anos como senador.

Com tantos estratagemas no Parlamento Brasileiro que elevaram a mentira à categoria de uma ciência e uma arte, é animador descobrir que nem todos os políticos são farinha do mesmo saco.

 

O autor é professor em Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

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