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Elio Migliorança

UMA GERAÇÃO QUE SE VAI

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Em cidades maiores, um falecimento nem é percebido ou causa pouco impacto. Na maioria dos casos, fica restrito a familiares, parentes, vizinhos e amigos próximos. Se tinha projeção política ou econômica, será notícia, mas, na maioria das vezes, é apenas um aviso nas notas de falecimento que nem todos escutam. Mas em cidades menores, como Nova Santa Rosa, uma morte é notícia e causa impacto. Na semana passada, tivemos três falecimentos. Acordei para um fato: há uma geração que se vai. É a dos colonizadores, que chegaram aqui nas décadas de 50 e 60, autores da colonização em nossa região. É o povo que enfrentou os desafios da mata, das estradas precárias, da moradia sem conforto, da inexistência de meios de comunicação, do serviço braçal, das dificuldades até para conseguir uma alimentação adequada. Mas tinham determinação, coragem e espírito de luta como poucos conseguem imaginar. Habitando neste quase “fim do mundo” havia duas coisas que os angustiavam demais. Escola para os filhos e igreja para cultivar a fé. O governo estava longe demais para ouvir o clamor destes filhos adotivos do Estado e atender esta demanda. Foi quando surgiram as primeiras escolas particulares, uma espécie de cooperativa educacional, sustentada pelas próprias famílias, que, além de prover seu sustento físico, também pagavam pela educação dos filhos. Até a manutenção das estradas era feita por eles, que doavam muitos dias de serviço por ano para tal fim.

Foi um período de muitas privações e muito trabalho. A derrubada da mata, o preparo e plantio das lavouras e a colheita, tudo serviço braçal. Não existiam máquinas e equipamentos para tal. Além disso, há outro olhar importante a ser lançado sobre esta geração. Era um povo de palavra que honrava seus compromissos. Não eram necessários documentos para dívidas e negócios. Valia a palavra empenhada e mesmo para quem não tinha bigodes, o “fio do bigode” tinha mais valor que muitos documentos nos dias atuais. Não precisava polícia, cada um cumpria o seu dever porque era isso que todos faziam e era assim que tinha que ser. O tempo passou e esta geração viu a maior transformação social e tecnológica da história da humanidade. Ela ainda pôde contemplar a agricultura de precisão, o surgimento de inúmeras variedades de plantas, fruto da pesquisa genética que criou um número quase infinito de possibilidades. Nas comunicações a maioria nem conseguiu acompanhar a velocidade com que as coisas foram acontecendo. Agora até é preciso “conversar” com máquinas para fazer as operações bancárias. Muitos ainda conseguiram usufruir de uma aposentadoria, embora não seja lá grande coisa, mas proporcionou para muitos um relativo conforto nos últimos anos de suas vidas. Esta é a geração que está indo. Fica um espaço vazio aqui, outro acolá, logo ocupado por outros mais jovens, e se não ficarmos atentos, quando acordarmos a maioria já terá ido. É uma geração que eu reverencio e à qual me curvo para prestar as mais sinceras homenagens e a gratidão pelo progresso que construíram e que nos deixaram por herança. Que bom seria se além do progresso também herdássemos e colocássemos em prática seus valores e seu jeito honesto de ser.

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