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Elio Migliorança

Uma pausa para reflexão

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O propósito é escrever uma série de artigos relatando o aprendizado proporcionado pela recente viagem aos países escandinavos, mas o que vi em duas semanas após o retorno da viagem me deixou perplexo e decidi abrir espaço para uma reflexão dado o inédito momento político brasileiro.

Assistir dois processos de cassação de um presidente da República não é pouca coisa. Quando este artigo foi redigido o processo de cassação ainda não havia sido concluído. Mas os questionamentos e as declarações dos senadores foram tão impactantes que achei oportuna esta reflexão, até porque ela nos mostra a qualidade dos políticos que temos.

Nunca votei em Gleisi Hoffmann, mas devo parabenizá-la pela coragem ao encarar os senadores e perguntar a todos: “Qual a moral desse Senado para julgar a presidente da República? Qual é a moral que têm os senadores aqui para dizer que ela é culpada, para cassar? Quero saber. Qual é a moral que vocês têm?”. Ninguém respondeu, mas os brasileiros conhecem a moral dos senadores, basta acompanhar as revelações feitas no processo da Operação Lava Jato e outras da Polícia Federal.

Em resposta, Renan Calheiros disse que os parlamentares estavam passando ao mundo a imagem de que o Senado é um hospício. Nada melhor para definir com perfeição a imagem que o mundo tem dos políticos brasileiros. A sessão de lavação da roupa suja apenas confirmou aquilo que todos estamos carecas de saber que é a qualidade dos nossos políticos.

Mas a revelação mais grave e que nos coloca há anos luz de distância das democracias, como as que vi nos países escandinavos, foi quando Renan Calheiros afirmou que no mês passado conseguiu no Supremo Tribunal Federal (STF) desfazer o indiciamento da Gleisi e do marido dela, o ex-ministro Paulo Bernardo, pela Operação Custo Brasil, da Polícia Federal.

Isto é gravíssimo, pois o presidente do Senado afirmou estar usando sua influência para atrapalhar as investigações de crimes de corrupção e revelou que o STF é manipulável e age em favor de acusados por intervenção de um ficha suja que também responde vários processos.

Não é o que se espera da Suprema Corte de um país. Já o presidente interino Michel Temer dá um tremendo golpe na população brasileira e sai com a maior “cara de paisagem”, como se isso fosse a coisa mais normal do mundo.

Ao iniciar sua interinidade enviou um projeto ao Congresso Nacional estimando um déficit fiscal para 2016 de R$ 170 bilhões, o maior da história do país, e logo em seguida autoriza vários aumentos salariais e outras despesas justificando que isso já estava previsto no déficit. É uma afronta aos brasileiros que vão pagar esta conta, autorizar qualquer aumento com o país quebrado como está.

Já o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, pressiona o Congresso Nacional pela aprovação de um aumento salarial, agindo mais como líder sindical do que como membro da Suprema Corte. Como metade dos senadores possui processos no STF, farão o jogo do “toma lá, dá cá”, aprovam o aumento e esperam um julgamento favorável.

O que queremos e esperamos é que todos os políticos acusados em processos sejam tratados com o mesmo rigor que foi tratada a presidente da República, como os senadores declararam durante o processo: que se faça justiça e que se cumpra a lei.

 

Professor em Nova Santa Rosa

miglioranza@opcaonet.com.br

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