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Dom João Carlos Seneme

Vencer a tentação que destrói a esperança e a paz

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Com a celebração da Quarta-feira de Cinzas iniciamos o Tempo da Quaresma que termina na Missa da Ceia do Senhor (Quinta-feira Santa). Ela não tem sentido em si mesma, mas o seu objetivo é nos preparar para a grande celebração da Páscoa do Senhor. Por isso é um período que privilegia a escuta da palavra de Deus, a conversão, a memória do batismo, a reconciliação com Deus e com os outros.

Semelhante à trajetória do antigo povo de Israel, que caminhou 40 anos no deserto para entrar na Terra Prometida, tendo Deus que caminhava à frente, a igreja, o novo povo de Deus, se prepara durante 40 dias para celebrar a Páscoa do Senhor. Embora seja um tempo penitencial, não deve ser vivido com tristeza porque trata-se de um momento especial de purificação e de renovação da vida cristã para participar com maior plenitude e alegriado mistério pascal de Cristo. É o próprio Jesus que vai à nossa frente, que nos abre um caminho novo, que se faz solidário em nossas dores e alegrias, pacificando o nosso interior e revelando o amor de Deus.

Três atitudes fundamentais nos acompanharão durante a Quaresma: a oração, o jejum e a esmola. A oração nos ajuda a adentrar-nos no nosso próprio interior e ouvir a voz de Deus. O jejum nos torna mais simples e humildes, conscientes de nossas fragilidades e mais compreensivos com as fraquezas dos outros. Enfim, a esmola, a caridade nos coloca em sintonia com nossos irmãos, de modo particular, os mais pobres. Este pedido de ascese na Quaresma ajuda cada pessoa a buscar o que é essencial para viver; esvaziando-se para deixar espaço para Deus e os irmãos. É urgente fomentar uma “cultura da austeridade, da comunhão, da partilha”, se não queremos nos desumanizar, nem desumanizar o planeta. A ascese nos coloca na direção da solidariedade; o ordenamento de nossos desejos nos permite escutar os desejos dos outros.

Neste primeiro domingo, também chamado Domingo das tentações, Jesus se prepara para iniciar sua missão e o texto evangélico quer enfatizar que não será uma tarefa fácil. Por isso, Jesus é conduzido ao deserto, lugar de provação e, ao mesmo tempo, de revelação da misericórdia de Deus. Foi no deserto que o povo de Israel experimentou o amor e a solicitude de Deus e foi ali que Deus propôs a Israel uma aliança. Contudo, o deserto é também o lugar da “prova”, da “tentação”; foi no deserto que Israel foi confrontado com opções e foi no deserto, também, que Israel sentiu, várias vezes, a tentação de escolher caminhos contrários aos propostos por Deus.

Neste período somos convidados à conversão: “Convertei-vos e crede na Boa-Nova”. A conversão é crer no Evangelho que é Jesus Cristo, Ele é a boa-notícia de Deus à humanidade. O encontro com Jesus certamente nos conduzirá à conversão, retorno, voltar ao caminho da verdadeira vida que se encontra em Deus. Deus tem um plano de salvação e Jesus vem para realizar este plano que será concluído na sua paixão-morte-ressurreição.

A igreja do Brasil realiza durante este período a Campanha da Fraternidade. Com o tema “Fraternidade: igreja e sociedade” e lema “Eu vim para servir” (cf. Mc 10, 45), a Campanha da Fraternidade 2015 buscará recordar a vocação e missão de todo o cristão e das comunidades de fé, a partir do diálogo e colaboração entre igreja e sociedade, propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II. Estamos celebrando 50 anos do Concílio que modificou o jeito de viver a fé, que convidou toda a igreja, assembleia de batizados, a reconhecer sua missão na sociedade para que sejamos uma Igreja atuante, participativa, consoladora, misericordiosa, samaritana. Todos os cristãos católicos são convocados a trabalhar para que as estruturas, as normas, a organização da sociedade estejam a serviço de todos. É na sociedade onde vivem todos os homens que a igreja deseja seguir Jesus Cristo: vim “para servir e dar a vida em resgaste por muitos” (Mc 10, 45; cf. texto base da Campanha da Fraternidade 2015). Peçamos a Maria, nossa Mãe, que nos acompanhe neste retiro espiritual em preparação à Páscoa de Jesus e nossa.

* O autor é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

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