Fale com a gente

Editorial

À venda

Publicado

em

O Brasil está à venda. Para tentar sanar o déficit das contas públicas, que deve acumular R$ 159 bilhões só neste ano, segundo cálculos revisados recentemente, o governo federal está liquidando algumas de suas empresas estatais e obras federais, como rodovias, aeroportos, linhas de transmissão de energia, terminais de carga, loteria, usinas hidrelétricas, Eletrobras e até a Casa da Moeda. Ao todo, são 57 privatizações ou concessões que devem injetar uma grana federal aos cofres públicos ainda neste ano.

A história recente do Brasil mostra que muitas empresas estatais são usadas por políticos para acomodar parceiros de crime, fraudar processos públicos, cobrar propina e distribuir vantagens para meia dúzia de pessoas, comprometendo até mesmo a viabilidade econômica e financeira dessas instituições. Hoje dá para entender com mais clareza os reais motivos para a ampla campanha de publicidade contra as privatizações feita na era PT. As estatais são alvos fáceis, lidam com grandes quantias em dinheiro e com insumos básicos, como energia e logística.

Com o caixa no vermelho, uma economia estática e um cenário político horrendo, não sobraram alternativas ao governo federal se não colocar seus bens à venda. Aliás, bens dos brasileiros. As privatizações e concessões são mais duas medidas que Michel Temer e sua equipe usam para amenizar o rombo nas contas públicas, provocado por uma política econômica que se mostra ineficiente há muitos anos e por atos ilegais que saqueiam ainda mais os cofres vazios. Burrice e corrupção cobram seu preço.

Certo que o governo vai lucrar com as vendas, certo também é que provavelmente esses empreendimentos vão receber investimentos e passarão a operar com mais qualidade. Muito provavelmente, porém, esses produtos e serviços oferecidos pelas instituições passarão por reajustes. Em outras palavras, ficarão mais caros. Afinal, capitalistas gostam de lucros, e ninguém vai se dispor a investir alguns bilhões de reais se não for para faturar bem. No fim das contas, o brasileiro vai pagar mais por esses produtos e serviços.

Há uma crise inigualável percorrendo a história recente da nação brasileira. As privatizações mostram claramente o desespero do governo para faturar algum trocado – a abertura de uma área de preservação ambiental para exploração mineral é outro indício. Onde o governo está podendo, está metendo a mão.

Se por um lado o governo ganha mais dinheiro, por outro perde seus ativos. Privatizar pode ser uma forma de melhorar a performance econômica do Brasil, ao mesmo tempo em que essas instituições passem a oferecer produtos e serviços de melhor qualidade. Mas é preciso fazer com clareza, defendendo os interesses dos mais de 200 milhões de brasileiros. Contratos malfeitos podem acabar penalizando a população. Os quase R$ 15 entre uma praça de pedágio e outra da BR-277 dizem por si só. É preciso bom senso na hora de colocar o Brasil à venda.

Continue Lendo

Copyright © 2017 O Presente