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Editorial

Vergonha é pouco

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Vergonha. Foi esse o substantivo mais usado na Argentina nos últimos dias. Mas diversas expressões também poderiam ser elencadas: ultrajante, monstruoso, animalesco, repugnante, à beira da irracionalidade. Os episódios de violência que antecederam a final da Libertadores da América, no sábado (24), e culminaram com uma onda de selvageria nas ruas de Buenos Aires e com o adiamento da partida, são uma triste, inerente e recorrente realidade em todo o futebol sul-americano.

As imagens que o mundo assistiu mostram o quanto o ser humano – ao menos boa parte – ainda precisa evoluir neurologicamente para se considerar melhor do que animais. Nem os ancestrais mais próximos seriam capazes de produzir tamanho espetáculo de horror.

O futebol não é apenas uma paixão do brasileiro. É o esporte mais prestigiado e praticado no mundo, envolvendo bilhões de torcedores que defendem seus mantos, com suas distintas cores, histórias e filosofias. É um esporte capaz de proporcionar emoções que comumente se vê nas arquibancadas, como o choro, de alegria, de felicidade, de decepção, de tristeza, a euforia, a inconformidade. Nas arquibancadas, abraça-se completos estranhos. Cada um vira o técnico perfeito e lança seus palpites para dentro do gramado nos intervalos dos cânticos de amor e apoio ao time do coração.

Mas nunca poderia desencadear o ódio, a raiva e o total desprezo pela vida humana. Mas infelizmente é o que se vê rotineiramente no meio futebolístico. Para essas pessoas que se dizem gente, o que menos importa é o futebol. São criminosos que deveriam ser banidos dos estádios, presos por tentativa de homicídio e condenados a cumprir rigorosas e longas penas na prisão.

No Brasil a situação é caótica. Não é preciso fazer uma retrospectiva tão grande para entender o problema. No dia 10 desse mês, um torcedor foi baleado pelos rivais e acabou morrendo. Outros 60 foram presos em grande confusão que antecedeu Flamengo e Botafogo. Um dia antes um torcedor do Villa Nova, de Goiás, foi espancado a pauladas por membros de uma torcida organizada rival e morreu como condenados morriam na idade média.

Vários são os motivos (nenhum justificável) que implicam na violência que cerca os estádios de futebol, seja no Brasil, na Argentina ou onde quer que seja. Um deles é a presença de criminosos infiltrados nas torcidas organizadas, geralmente as que protagonizam as lamentáveis cenas de combate. Há ainda a culpa dos dirigentes dos clubes, que acobertam e financiam essas pessoas, ou ainda espalham a falta de respeito pelos rivais na mídia e nas redes sociais. Há ainda o papel do jogador, agressivo em campo e nas entrevistas, fazendo aflorar ainda mais dor no já inflamado campo da intolerância.

O fim disso tudo passa invariavelmente pela aplicação de penas mais duras a torcedores e clubes, como aconteceu na Europa a partir dos anos 90. Escudos envolvidos em episódios de violência devem ser proibidos de participar de campeonatos por um longo período. E seus torcedores criminosos devem ser presos, permanecer exemplarmente reclusos e ficar de fora dos estádios para o resto de suas vidas. Enquanto as autoridades continuarem reativas, a selvageria vai perdurar impregnada no deleitoso, mas aterrorizante futebol mundial.

 

 

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