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Arno Kunzler

Vices e federações

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O presidente Jair Bolsonaro está dividido entre a bancada expressiva que hoje comanda a Câmara dos Deputados, chamada Centrão, e os conselheiros militares para escolher seu vice.

Do Centrão, Bolsonaro deseja uma vice, de preferência   representando a miscigenação que domina a formação étnica dos brasileiros, para tornar sua candidatura mais palatável especialmente entre as mulheres e o eleitor nordestino.

Já dos militares, de quem não gostaria de se distanciar, Bolsonaro gostaria que fosse seu ministro Braga Netto, com quem compartilhou as melhores e bem-sucedidas batalhas durante seu governo.

Lula parece ter decidido que Geraldo Alckmin será seu vice.

E se Alckmin for mesmo para o PSD, de Gilberto Kassab, vai gerar um turbilhão político sem precedentes, inclusive no Paraná, onde Ratinho Junior, ainda que tenha a simpatia do ex-presidente, não é seu candidato preferido.

Se Alckmin for para o PSB, cujo partido está negociando uma federação com o PT, a chapa não terá a imersão desejada no eleitorado mais ao centro, onde Lula tem dificuldades.

Lula acenou para o centro e conseguiu arrebanhar um eleitorado importante ligado ao PSDB para a sua caminhada, especialmente no Estado de São Paulo.

Sergio Moro parece ter desistido da ideia de ter um vice do novíssimo partido União Brasil, formado com a fusão de DEM e PSL e, em tese, liderado pelo ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

Ha dificuldades para construir essa aliança de Norte a Sul, e o ex-juiz e ex-ministro da Justiça parece estar mirando para outro grupo político: o MDB da senadora Simone Tebet. Esse tem mais simpatia do Podemos e dos principais aliados da sua candidatura. Moro tenta concentrar sua campanha ao centro, onde seus aliados consideram haver mais eleitores que apostam na dupla “nem Lula, nem Bolsonaro”.

Moro é hoje o candidato mais detestado por lulistas e bolsonaristas ao mesmo tempo.

Dos quatro pré-candidatos que pontuam melhor nas pesquisas, Ciro Gomes (PDT) parece encontrar mais dificuldades. Além da queda nas pesquisas, o pedetista precisa escolher um vice para somar. Não terá dificuldades para ter um vice, mas para saber qual vice servirá melhor à sua chapa. Se optar por Marina Silva, estará disputando com maior peso o eleitorado de Lula, mas perderá votos do centro. Se escolher Kátia Abreu, se ela aceitar, terá votos ao centro, mas deixará a esquerda livre para Lula.

O dilema continua e só vai aumentar com as negociações que envolvem a formação da federação de partidos.

Visto de fora, é o caos eleitoral criado por mudanças de última hora na legislação eleitoral.

São casuísmos impostos aos partidos, que podem acabar com vários partidos, a alguns meses da eleição.

Não que acabar com inúmeros partidos não seja salutar, mas da forma como estão essas negociações parecem mais com guerra de bastidor do que articulação.

Mais uma vez vamos ouvir acusações de todos os tipos, especialmente derrame de dinheiro sujo para comprar líderes que têm voto em seus partidos.

Vamos ter uma eleição não só muito acirrada verbalmente, mas também tumultuada financeiramente, já que as federações, diferentemente das coligações partidárias, são para quatro anos, influenciando diretamente nas eleições para prefeitos e vereadores de todo o Brasil.

 

Arno Kunzler é jornalista e fundador do Jornal O Presente e da Editora Amigos

arno@opresente.com.br

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