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Dom João Carlos Seneme

Vinde a mim e encontrareis descanso

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Um dos motivos mais evidentes na Bíblia é tema da humildade como a condição escolhida por Deus para se manifestar no mundo. Deus não escolhe o caminho do poder. Ele exalta os pequenos, os humildes. Para conhecer Deus é preciso deixar de lado o desejo humano de ser grande, poderoso. “Bem-aventurados os pequenos”.

O Evangelho deste domingo, intenso e profundo, é composto de três partes: uma oração (“Eu te louvo, Pai …”), uma declaração sobre si mesmo (“Todas as coisas me foram dadas pelo meu Pai …”) e um convite (“Vinde a mim todos os que estais cansados…”). A oração contém uma revelação de extraordinária importância: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequenos”. Jesus revela o seu segredo mais profundo: Filho do Pai, unido a ele na mesma natureza, isto é, pelo mesmo Espírito, Deus ele mesmo de Deus. Dirige-se ao Pai chamando-o em sua língua, Abba, isto é, papai, paizinho. Por isso encanta os mais simples, puros de coração e escandaliza os mais inteligentes, duros de coração.

Na primeira Carta aos Coríntios São Paulo afirma: “Para envergonhar os sábios, Deus escolheu aquilo que o mundo acha que é loucura; e, para envergonhar os poderosos, ele escolheu o que o mundo despreza, acha humilde e diz que não tem valor. Isso quer dizer que ninguém pode ficar orgulhoso” (1 Cor 1,26-29).

As palavras de Cristo e Paulo lançam uma luz singular sobre o mundo de hoje. É uma situação que se repete. Muitos considerados sábios e cultos se afastaram Deus e perderam a fé. Muitas vezes olham com piedade a multidão dos que têm fé, que rezam, que acreditam em milagres e se ajoelham diante de Nossa Senhora Aparecida. O orgulho pode interromper nosso caminho de encontro com Deus que se dá através da humildade e do reconhecimento dos limites de nossa sabedoria. Jesus nos mostrou o caminho: fez-se ele mesmo manso e humilde e convidou a estar com ele: aprendei de mim!

As palavras de Jesus dirigidas aos escribas e fariseus que colocavam o cumprimento da lei acima de Deus tornam-se motivo de questionamento para nós. São os pequenos, pobres, pecadores que acolhem a sua palavra e a sua pessoa. São os pequeninos que compreendem a dinâmica do Reino, por isso Jesus bendiz o Pai por eles. Ele chama a si todos os que estão cansados e abatidos. Ele quer a nossa ajuda para revelar o mistério de Deus: seu jugo é suave e seu fardo leve. 

Jesus é o caminho para conhecer o Pai. Esse caminho é revelado a todos. Os simples e humildes conseguiram vê-lo com clareza e foram os que mais prontamente o acolheram: pastores, pescadores da Galileia, mulheres simples do povo, pobres das vilas e cidades, pecadores, marginalizados… Os outros – os sábios, como Nicodemos, os inteligentes, como Paulo – tiveram que percorrer uma longa estrada de descida; renunciar à autossuficiência para dar lugar ao encontro com Deus: abandonar-se a Deus e se deixar trabalhar por ele; deixar-se surpreender e sentir que ele caminha lado a lado.

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