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Dom João Carlos Seneme

Vinde a mim porque sou manso e humilde de coração

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Jesus reza. Dirige-se a seu Pai. Sua oração é um ato de ação de graças. Ele elogia o Pai por tudo o que Ele realiza. Jesus fica maravilhado em ver a espontaneidade com que as crianças e as pessoas simples acolhem sua palavra. De outro lado, há aqueles que se afastam d’Ele e não o reconhecem como o Filho de Deus. Hoje, Jesus manifesta sua alegria. Ninguém discute com ele, ninguém o critica. Há somente aqueles que o acolhem com simplicidade: não compreendem tudo, mas aceitam o amor que Jesus lhes dedica. Desta forma conseguem experimentar o mistério de Deus que Ele revela. Deus nos escolheu e amou primeiro.O Evangelho deste domingo (06), intenso e profundo, é composto de três partes: uma oração (“Eu te louvo, Pai …”), uma declaração sobre si mesmo (“Todas as coisas me foram dadas pelo meu Pai …”) e um convite (“Vinde a mim todos os que estais cansados…”). A oração contém uma revelação de extraordinária importância: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequenos”. Jesus revela o seu segredo mais profundo: Filho do Pai, unido a Ele na mesma natureza, isto é, pelo mesmo Espírito, Deus ele mesmo de Deus. Dirige-se ao Pai chamando-o em sua língua, Abba, isto é, papai, paizinho. Por isso encanta os mais simples, puros de coração e escandaliza os mais inteligentes, duros de coração. Na primeira carta aos Coríntios, São Paulo afirma: “Para envergonhar os sábios, Deus escolheu aquilo que o mundo acha que é loucura; e, para envergonhar os poderosos, ele escolheu o que o mundo despreza, acha humilde e diz que não tem valor. Isso quer dizer que ninguém pode ficar orgulhoso” (1Cor 1,26-29). As palavras de Cristo e Paulo lançam uma luz singular sobre o mundo de hoje. É uma situação que se repete. Muitos considerados sábios e cultos se afastaram Deus e perderam a fé. Muitas vezes, olham com piedade a multidão dos que têm fé, que rezam, que acreditam em milagres e se ajoelham diante de Nossa Senhora Aparecida. O orgulho pode interromper nosso caminho de encontro com Deus que se dá através da humildade e do reconhecimento dos limites de nossa sabedoria. Jesus nos mostrou o caminho: fez-se Ele mesmo manso e humilde e convidou a estar com Ele: “Aprendei de mim”! Jesus se apresenta como o Filho de Deus, mas não o filho triunfante que poderíamos esperar, mas um filho humilde e simples. Ele é o Filho que recebeu tudo do Pai e segue o plano salvador da Santíssima Trindade e cumpre missão que lhe foi confiada: reunir todos os filhos dispersos numa única família. “Todas as coisas me foram dadas por meu Pai; ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelá-lo”. É o amor que existe entre o Pai e o Filho que lhe dá forças para concluir sua missão. Esse mesmo amor Ele comunica aos “pequenos” porque estes aceitam o amor oferecido. O que Deus é por natureza nós o somos por graça. “Deus enviou seu Filho para nos resgatar e para que fôssemos adotados como filhos”. Jesus nos colocou em condição de filhos de Deus pela sua morte e ressurreição, mas entramos em contato com a Trindade e participamos no diálogo inefável entre o Pai e o Filho.Jesus é o caminho para conhecer o Pai. Esse caminho é revelado a todos. Os simples e humildes conseguiram vê-lo com clareza e foram os que mais prontamente o acolheram: pastores, pescadores da Galileia, mulheres simples do povo, pobres das vilas e cidades, pecadores, marginalizados. Os outros – os sábios, como Nicodemos, os inteligentes, como Paulo – tiveram que percorrer uma longa estrada de descida; renunciar à autossuficiência para dar lugar ao encontro com Deus: abandonar-se a Deus e se deixar trabalhar por Ele; deixar-se surpreender e sentir que Ele caminha lado a lado.
* O autor é bispo da Diocese de Toledo
revistacristorei@diocesetoledo.org

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