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Dom João Carlos Seneme

Vinde, Espírito Divino, enchei com vossos dons os corações dos fiéis

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A festa de Pentecostes é a interpretação cristã da festa das tendas, celebrada pelos judeus. Neste dia eles recordavam o tempo em que eram nômades e viviam em tendas e Deus caminhava com eles. Era tempo da colheita do trigo e eles ofereciam os primeiros frutos ao Senhor como sinal de agradecimento. Com o tempo, introduziram a celebração da aliança de Deus com o seu povo através da Torá (= mandamentos, os cinco primeiros livros da Bíblia). 

Para Israel Pentecostes era a festa das primícias e do mundo novo que brotava das cinzas. A vinda do Espírito sobre a primeira comunidade cristã constitui a origem de um caminho novo, fecundo, à luz do Ressuscitado; um caminho de liberdade, que se abre a todos os povos de todas as etnias e todas as línguas, para torná-los uma só família: a família de Deus.

O texto do Evangelho deste domingo (09) retoma o mandamento do amor justamente quando Jesus concede o dom do Espírito Santo! É sua herança mais verdadeira: não vos deixarei só. Pedirei ao Pai e Ele vos dará o Paráclito, para que fique eternamente convosco. O Espírito de Deus é o amor personificado. Naquela manhã, em Jerusalém, os discípulos sentiram concretamente o amor de Deus entrando em suas vidas e transformando-os em homens novos. Não importava a fragilidade que tinham, o medo; naquele momento eram recriados como criaturas novas pela força do amor do Espírito Santo para ser testemunha do Senhor Ressuscitado: ide pelo mundo, pregai o Evangelho a toda criatura. Com suas línguas de fogo, o Espírito fez aparecer a Igreja, corpo vivo de Cristo. Nós, que somos a Igreja, somos corpo vivo de Cristo pelo Espírito Santo.

A cada Eucaristia, o Espírito Santo desce sobre o altar e transforma o pão e o vinho em corpo e sangue vivo de Cristo. E um dia, no fim do mundo, o Espírito virá e dará vida aos nossos corpos mortais e nos fará ressurgir para a vida eterna.

Pentecostes, cinquenta dias depois da Páscoa, explosão de amor de Deus sobre sua Igreja para que seus filhos e filhas assumam com coragem e alegria sua vocação para o amor, o encontro, a união, a fraternidade. “Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fieis e acendei neles o fogo do vosso amor e renovai a face da terra”. Ficar cheio do Espírito Santo é ficar cheio do amor que é Deus. A síntese é de Santo Agostinho: “O Pai é Aquele que ama. O Filho é o amado. O Espírito Santo é o amor”. O amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. (Rm 5,5).

É assim que nasce a Igreja: quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam. De um lado o Espírito Santo age impulsionando a Igreja para fora (vocação missionária), para abraçar na sua unidade um número sempre maior de povos e culturas, e, de outro lado, para dentro, para fortalecer na unidade.

Deixemo-nos conduzir pela presença do Ressuscitado em nossas comunidades, só assim seremos promotores de paz, semeando o amor que Deus nos concedeu. Que a festa de Pentecostes nos anime a retomarmos com novo ardor o caminho de Jesus Cristo, vivendo o evangelho em nossas vidas e anunciando-o onde a vida se encontra ameaçada.

 

O autor é bispo da Diocese de Toledo

revistacristorei@diocesetoledo.org

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