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Tarcísio Vanderlinde

Viver com Emoção

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Para o filósofo Sêneca, a vida poderia até ser breve. O que a prolongaria seria a arte do seu uso. Ela seria suficiente extensa para quem dela soubesse dispor de modo adequado. Ele disseminou a opinião de que seria uma atitude néscia deixar para pensar na mortalidade e atender bons conselhos apenas em idade avançada, pois sempre existiria o risco de se viver sem atingir a idade desejada.

Para Sêneca, a arte de bem viver exigiria a vida inteira, sendo, talvez, mais surpreendente que a vida toda seria um aprendizado do saber como morrer. A sabedoria era considerada por ele como algo desejável a ser adquirida independente do tempo que se vive. E seria muito melhor do que perseguir honrarias ou tentar se eternizar em monumentos.

E para aqueles indivíduos que não viveram, mas apenas ficaram velhos, e têm pouca coisa a compartilhar a não ser falar de suas doenças e das doenças dos outros, Sêneca observou que certos males só se curavam quando ignorados pelos enfermos. Ele costumava dizer que para muitos a causa da morte foi tomar conhecimento da própria enfermidade.

Há dois anos, em companhia de um grupo de amigos, tive a oportunidade de conhecer a Patagônia, um ecossistema complexo que abrange o Sul dos territórios da Argentina e do Chile. Costuma-se dizer que ali é o fim do mundo. Ao visitar aquele lugar fiquei curioso em saber que tipo de pessoas ali viviam e por ali passaram estudando e apreciando aquela paisagem antes de mim.

Descobri num museu da cidade argentina de Calafate que no início do século XX um cientista explorador de nome Francisco Pascasio Moreno já havia feito estudos e explorado a cavalo aquela região que agora eu estava vendo e pisando pela primeira vez.

Desde criança, Francisco havia mostrado interesse por excursões paleontológicas, donde desenvolveu a paixão pela natureza. Tinha predileção em sentir a emoção do desconhecido. Alternava seus estudos com excursões pelas barrancas de rio procurando fósseis pré-históricos. Estimulado pela leitura de livros de viagens, se interessou por paleontologia e pela arqueologia.

O principal glaciar daquela região, e que por ironia Francisco não chegou a conhecer, leva hoje o nome daquele pesquisador. O glaciar se estende desde o campo de gelo Patagônico Sul até o Sul do lago Argentino, e é considerado uma das reservas de água doce mais importantes do mundo. O sentimento pode ser o de um menino, ao passar pela experiência de ficar frente a frente com a mega geleira. O ambiente é deveras impactante.

No museu de Calafate há um monumento que representa o explorador. Ao lado, uma inscrição que enaltece seus feitos e o coloca como um paradigma a ser seguido pelas gerações futuras. Francisco viveu com emoção fazendo o que apreciava e o que achava correto.

Evidentemente não é preciso ir até o fim do mundo para sentir emoção. Acordar para mais um dia de vida ou poder acessar um ano novo é deparar-se com a possibilidade de sentir emoção por algo que ainda não aconteceu.

Sendo assim, desejo aos amigos e amigas, leitores e leitoras, um ano de 2018 repleto de realizações. Que o ano possa trazer a mudança paradigmática que todos nós esperamos para o país onde habitamos.

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