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Dom João Carlos Seneme

Vós sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo

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O evangelista São Mateus descreve o ministério de Jesus em vários momentos. Depois de seu batismo e as provações no deserto, Jesus parece seguir um estilo semelhante ao de João Batista. Não no deserto, mas nas ruas. Neste período acontece o chamado de quatro discípulos e algumas curas, que são sinais da Boa Nova, que Ele anuncia. Jesus não faz nenhuma declaração de princípios ou doutrina. As bem-aventuranças, apresentadas no início do capítulo cinco, são as primeiras diretrizes que Jesus apresenta aos seus seguidores. Assim como fez Moisés no Monte Sinai, também Jesus anuncia um estilo de vida que Ele convida a seguir. São simples declarações que descrevem uma atitude, uma forma de viver a vida: você não é “abençoado” ou “feliz” porque sabe que tipo de alimento deve evitar, ou quantos passos pode andar no sábado, ou pagar os dízimos para o Templo. Ser “feliz” não é uma questão de ter boa saúde, ser um(a) esposo(a) virtuoso(a), ter uma vida de boa qualidade, ou ter pessoas falando bem de você. São considerados “felizes” também quando passam fome, são pobres ou perseguidos. É verdadeiramente “feliz”, segundo as bem-aventuranças, quem reconhece o amor de Deus e participa do seu Reino. O ponto central é este mesmo: a vida tem um significado mais profundo do que os nossos olhos podem ver. Há outros valores permanentes que dão sentido à vida e nos preparam para a vida em plenitude; e isso vai além das riquezas, saúde e bem-estar. Para os que têm fé, é o amor e a misericórdia de Deus que dão sentido à vida: sem a misericórdia e o amor de Deus nossas vidas não tem sentido! “Sei em quem confiei” (1Tm 1,12); “Como é feliz o homem que põe no Senhor a sua confiança” (Sl 40). Aprendemos com Jesus que o Reino de Deus é para nós e que nem mesmo o pecado pode separar-nos do amor de Deus (Rm 8,31). É neste contexto que podemos entender o tema do “sal da terra” e “luz do mundo”. O sal serve para dar sabor, para conservar e purificar. Os discípulos, pela graça de Cristo, dão sabor ao mundo, sentido à existência humana. A atenção deve ser redobrada porque o sal pode ser adulterado e perder sua finalidade, não servir para mais nada. Também a luz tem a finalidade de aquecer, iluminar caminhos. Luz em excesso ofusca e cega. A medida do sal e a intensidade da luz são a medida da ação de Deus na vida do discípulo. “Somente quando o discípulo se deixa conduzir pelo sopro de Deus e é movido unicamente pelo desejo de servi-Lo, é que ele exprime sua verdadeira identidade”! (Pe. Carlos Alberto Contieri, sj).Estas duas metáforas evangélicas ilustram o caminho do discípulo de Jesus e também desafia: eles serão poucos (como o sal), mas serão capazes de agir que farão notar sua presença. Também o contrário pode acontecer: uma religião sem alegria e amor pode se tornar insossa e não significar mais nada. Ser luz do mundo é como um farol que aponta para Deus e mostra o caminho a ser seguido, iluminando as trevas do pecado, do erro, da falta de amor. Para ser “sal da terra” e “luz do mundo”, o importante não é o ativismo, a agitação, o protagonismo superficial e personalista, mas as “boas obras” que nascem do amor e da ação do Espírito de Deus em nós.
* O autor é bispo da Diocese de Toledo
revistacristorei@diocesetoledo.org

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