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Arno Kunzler

Parece, mas não é

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O Brasil está em pé de guerra com a política.
Talvez nem tanto com os políticos, mas com a política.
Ficou claro que os brasileiros foram às ruas protestar contra a política. Se fosse contra os políticos, o alvo seria mais direto, como é o caso do Rio de Janeiro, onde uma parcela dos que protestam escolheram o governador Sérgio Cabral.
Mas, de modo geral, os protestos não têm um endereço específico, não são necessariamente contra um agente político e nem contra um grupo, um partido especificamente.
O povo não gosta é da produção dos políticos, não aprova o resultado final.
E isso está traduzido na palavra CORRUPÇÃO.
As obras são caras e de má qualidade, os serviços são caríssimos e de péssima qualidade, os privilégios da classe são muitos e alguns inaceitáveis.
Não resta ao povo outra maneira de reclamar, senão ir para as ruas, levantar sua voz e parar de só pedir, e esperar…
Os políticos são reféns do que eles mesmos criaram, leis, regulamentos e intermináveis burocracias que em nada melhoraram a vida das pessoas, e ao invés de acabar, aumentou sensivelmente a corrupção, a olho nu.
Logo, a população perdeu a paciência e usou sua própria força para impedir, num primeiro plano, o aumento das passagens urbanas, e conseguiu.
Todavia, à luz da imparcialidade é preciso perceber as questões contra as quais o Brasil se indignou e as reivindicações oportunistas e ocasionais.
Assim, conter os custos e tornar mais transparente a gestão do transporte público, que é na prática privado, é algo extraordinário, importantíssimo para o futuro. Mas forçar os governos com a pressão do povo na rua para criar o passe livre é extremamente questionável.
Ou será que os destinatários do passe livre pensam que o governo pagando, o dinheiro vem de alguma cartola e não dos impostos que pagamos?
Se alguém recebe algo grátis, outro, ou outros, pagaram por ele.
É perfeitamente louvável que uma pessoa que tenha uma doença grave na família seja socorrida pelo governo, com recursos dos impostos, pois é justo que os que não têm problemas paguem um pouco cada um para que os que têm problema de saúde tenham como se tratar.
Nesse caso, reclamar por saúde pública de qualidade para todos os doentes que precisam não é a mesma coisa que reclamar transporte gratuito para determinados grupos.
O perigo do momento é que alguns grupos não têm discernimento do que é justo e necessário que os governantes façam, investindo dinheiro público.
Como os governantes costumam ser maus gestores – e isso não é privilégio de um ou outro partido, é regra geral – não é fácil supor que coletivizando todos os problemas seja mais fácil resolvê-los.
Então, é perigoso acharmos que os protestos podem resolver todos os problemas. Podem resolver uns e criar outros piores do que estes…
Eles certamente já surtiram efeitos altamente positivos, tanto encorajando as pessoas para empunhar novas e importantes bandeiras de lutas no futuro, como inibindo os governantes a tomar decisões insensatas por conta do povo que paga.
Mas é bom saber distinguir o que é saudável daquilo que é nocivo, embora pareça saudável.

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