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Editorial

Reforma de verdade

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O substantivo feminino “reforma” pode ser definido como uma mudança inserida em algo para fins de aprimoramento e obtenção de melhores resultados. Quando a dona de casa quebra paredes, troca os armários e muda a configuração da geladeira e do fogão, é porque ela quer uma cozinha mais ampla, melhor. Quando o sapateiro reforma o calçado, ele o torna melhor. Quando o empresário desembolsa uma grana para criar novos espaços dentro da empresa, ele quer algo melhor para seus colaboradores, fornecedores e clientes. Reformar é melhorar.

Mas reforma deve ter outro significado lá pelas bandas de Brasília. Na iminência de votar a tão necessária reforma política, já na próxima semana, os deputados federais estão tentando reformar para piorar. O objetivo, com a aprovação do chamado distritão, é garantir a perpetuidade do poder àqueles grupos e famílias que já o detêm, dificultando muito a renovação política brasileira. Mais que isso, vai inchar o número de deputados dos grandes centros urbanos e reduzir a representatividade de povoados isolados, das pequenas cidades e suas comunidades.

Mais do que isso ainda, aprovando o distritão os candidatos ao Parlamento terão que percorrer todo seu Estado à procura de votos, ao contrário do que basicamente ocorre hoje, quando eles se concentram em suas regiões, como o Oeste do Paraná, por exemplo. Assim, os custos e o desgaste das campanhas eleitorais serão infinitamente maiores, piorando ainda mais as chances de candidatos menos abastados e membros de partidos menores.

Aprovar a reforma política é uma das necessidades urgentes para o Brasil. Entretanto, esse tipo de matéria, que tanto interessa ao cansado povo brasileiro, sequer foi posta a debate popular. O relatório aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados durante a madrugada, quando os ratos saem dos porões, e que segue agora para o plenário não foi debatido pela mídia, não recebeu as considerações populares e as contribuições dos setores organizados da sociedade civil. Trocando em miúdos, os parlamentares brasileiros querem aprovar algo que beneficie a eles mesmos, sem dar voz à população.

Não há consenso sobre o futuro da reforma política desse país, mas muitos deputados se mostram insatisfeitos e contrários a essa aprovação goela abaixo. Quem tem um pouco de decência percebe que não é isso que o povo quer, não é isso que o povo vai aceitar – facilmente – e não é isso que é reformar.

Reformar deve ser para tornar melhor, moderno, eficiente. A população brasileira quer as reformas, mas quer elas bem feitas, sem votações noturnas e imposições de cima para baixo. Não é qualquer coisa que agrada o brasileiro nesse momento tão delicado que vive o cenário econômico e político no país. A população não aguenta mais tanta pilantragem pra cima do trabalhador. Mesmo o Brasil vivendo um momento que pode constituir uma revolução ética e moral da política brasileira, os velhos arranjos insistem em manter o país nas mãos dos poderosos. Fora, bandidos! Está na hora de reformar de verdade.

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