O Presente
Arno Kunzler

A estranha aliança

calendar_month 18 de março de 2022
3 min de leitura

Não sei quem foi mais corajoso – Lula ou Alckmin – em aceitar um ao outro na formação de uma chapa presidencial.

Talvez as diferenças ideológicas nem sejam tantas e tão profundas, mas a história política de ambos no mínimo é um peso, para não dizer que condena a aliança.

É um prato cheio para os adversários, que conseguem material farto contendo discursos inflamados transbordando críticas de um ao outro.

Geraldo Alckmin é criticado por antigos aliados e Lula por boa parte dos partidos da esquerda, historicamente seus aliados.

Não fosse Alckmin um sujeito simples, de oratória relativamente moderada, do tipo sem sal, certamente a aliança não seria possível.

Mas ele tinha um trunfo: era líder das pesquisas para o Governo de São Paulo e para Lula conseguir uma aliança com o PSB tinha que oferecer um palanque unido para o ex-vice de Alckmin e governador de São Paulo, Márcio França, agora forte candidato ao governo paulista.

Por outro lado, Lula não é candidato de primeira viagem. Perdeu três vezes para vencer a primeira e sabe o que soma e o que afasta os eleitores de um candidato a presidente.

Se Alckmin, que tantas vezes criticou Lula e sua turma do PT, de quem foi adversário em São Paulo e na disputa presidencial, agora pode estar no mesmo palanque, formando chapa ao seu lado, a avaliação de Lula certamente considera que as abundantes críticas não surtem maior efeito do que benefícios.

Assim, talvez pretenda sinalizar para todos que nos últimos anos escolheram Lula como o maior vilão da história, o maior corrupto de todos os tempos e que deveria estar na cadeia, a reconsiderar suas posições, assim como Alckmin fez.

Se Alckmin pode estar ao lado de Lula, por que os brasileiros, que em eleições anteriores apoiaram Alckmin contra o PT, não poderiam reconsiderar sua posição?

É uma aposta arriscada do ex-presidente Lula, mas numa campanha acirrada como a que estamos vivendo, todos os ensaios são válidos, até provar o contrário.

Lula já deve ter ouvido todas as críticas, assistido todos os discursos que Alckmin fez criticando o ex-presidente e se, mesmo assim, considera que ele seja um vice melhor do que as outras opções, certamente, para ele, não é um passo no escuro.

Mas que essa decisão do ex-presidente desperta curiosidade e aumenta muito o tom das críticas aos líderes do PSDB que estão ou eram alinhados com Alckmin isso é fato.

O que não se deve imaginar é que Lula vá colocar sua campanha em risco por causa da escolha do vice.

Se não tivesse certeza de que na pior das hipóteses manteria seus eleitores, não escolheria Alckmin.

As alianças de Lula são muito amplas e podem não gerar soma de votos, mas geram palanques robustos.

O que vai garantir os votos, seja para Lula, seja para Bolsonaro ou outros candidatos, é a forma como eles vão pedir votos, o argumento para pedir votos e como seus apelos vão alcançar o eleitor.

O eleitor fanático já tem candidato. O que os presidenciáveis procuram de agora para frente são os indecisos, os decepcionados e os desiludidos.

 

Arno Kunzler é jornalista e fundador do Jornal O Presente e da Editora Amigos

arno@opresente.com.br

 
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