A construção de uma candidatura alternativa aos extremos representados por Lula e Bolsonaro ficou ainda mais difícil a partir do anúncio de Sergio Moro de filiar-se ao União Brasil e renunciar, neste momento, à pré-candidatura presidencial.
Talvez seja uma estratégia para construir uma unidade entre os partidos que estão nessa busca por uma terceira via, talvez esteja mesmo sepultada a pré-candidatura do ex-juiz.
As demais pré-candidaturas – João Doria, Eduardo Leite, Simone Tebet e Ciro Gomes – já vinham encontrando dificuldades para manter mínimos índices de empolgação do eleitorado.
Com a eventual desistência de Sergio Moro, é preciso saber se os seus votos migram para algum de seus competidores próximos ou se acabam aumentando os índices de Lula e Bolsonaro.
Se houver uma soma de votos dos candidatos alternativos é possível ressurgir um nome com mais força, que pode até mesmo ser o do governador do Rio Grande do Sul, que está renunciando ao mandato para algo que ainda não está claro.
A dificuldade de Sergio Moro sempre foi conseguir apoio dos partidos políticos.
Os políticos de quase todos os partidos odeiam Sergio Moro e têm medo do que ele possa propor.
Acontece que em todos eles existem líderes ou filiados importantes que foram listados pela Lava Jato, alguns investigados, outros até presos.
Para Sergio Moro se alinhar com políticos investigados tira dele a essência de quem condenou corruptos.
Para disputar a eleição presidencial, sozinho, sem partidos fortes, não terá espaço para defender seu projeto.
Assim, num momento de lucidez e sabedoria, Sergio Moro desistiu da candidatura para não desistir da política, agora que ingressou nela e virou alvo de críticas de todos os lados.
Ficou claro que ainda lhe falta traquejo para navegar nesse oceano de turbulências constantes que é a política partidária.
Moro se preserva para futuros embates e se conseguir um espaço no Congresso aprenderá as lidas com seus pares políticos.
Ou então ressurge daqui alguns meses como o candidato do chamado centro, que, pelo jeito, coloca todos os nomes na mesma condição para daí surgir o que tem alguma chance de despolarizar nossa eleição presidencial, seja ele Moro, Doria, Leite, Simone ou Ciro ou concluem que nenhum deles.
A eleição presidencial empobrece polarizada dessa forma, mas já não é surpresa ver que os dois lados – Lula e Bolsonaro – se protegem mutuamente, porque ambos acreditam que no segundo turno vencem um ao outro.
A continuar assim vamos viver uma das campanhas mais acirradas, mais polarizadas e menos propositivas.
Vamos ouvir muito os dois chavões Lula ladrão e Bolsonaro genocida.
O momento era para discutir e debater propostas, ideias e projetos para o Brasil, mas pelo jeito queremos apontar os defeitos dos candidatos, e só.
Arno Kunzler é jornalista e fundador do Jornal O Presente e da Editora Amigos
