Como era de se esperar, o ambiente oferecido ao ex-presidente Lula para sua entrevista ao Jornal Nacional foi muito mais leve do que com a presença de Jair Bolsonaro.
Bonner e Renata estavam mais à vontade.
Ainda que tenha repertório, experiência e presença de espírito para responder tudo com tranquilidade, Lula estava mais agitado.
Não foi interrompido e nem acusado como foi Bolsonaro.
Portanto, Lula pôde falar à vontade.
Primeiro evitou a pecha de ladrão, negando taxativamente seu envolvimento com a corrupção que levou à cadeia vários de seus principais ministros e amigos empreiteiros, inclusive ele próprio.
Culpou a Lava Jato pela crise brasileira e pela quebra da indústria da construção civil.
Segundo, não permitiu que associassem o governo Dilma ao governo Lula. Inclusive, apontou falhas cometidas pela sua sucessora, limitando-se a dizer que Dilma lhe ajudou muito no seu governo.
Evitou fazer qualquer proposta sobre reforma tributária, política, Judiciário e muito menos trabalhista.
Também não foi questionado e provocado sobre os assuntos.
Mas falou que iria se reunir com o Ministério Público, caso seja eleito, para uma espécie de alinhamento, o que não ficou claro.
Rasgou elogios ao seu vice, Geraldo Alckmin, com quem disse que vai dividir a responsabilidade de governar e garantiu que o PT está aplaudindo seu vice.
Sobre o agronegócio e o MST, ficou só na retórica. Preferiu dizer e enaltecer o que fez no seu governo.
Não entrou em bola dividida sobre invasões de terras produtivas e nem sobre demarcação de novas áreas produtivas em reservas indígenas.
Não concorda que o agro esteja contra ele.
Falou que os agricultores que mais lhe acusam são os que querem destruir o meio ambiente. Chamou-os de “fascistas” .
Sobre eles, ainda disse que preferem uma arma a cuidar dos interesses do Brasil.
Repetiu o bordão que vai acabar com a fome e que as pessoas vão poder comer picanha e beber uma cerveja de novo.
Em relação à política internacional, declarou que o país vai receber muitos amigos que se afastaram do Brasil por causa da política do atual governo.
Questionado sobre o Centrão, Lula foi enfático: ninguém vai governar o Brasil sem conversar com os eleitos.
Lembrado sobre o mensalão, mencionou que isso não foi nada diante do atual orçamento secreto conduzido pela presidente da Câmara, Arthur Lira.
Por fim, ressaltou que a alternância do poder faz bem para a democracia.
Lula disse muito pouco de concreto sobre seu futuro governo, caso seja eleito.
Por Arno Kunzler. Ele é jornalista e fundador do Jornal O Presente, da Editora Amigos e da Editora Gralha Azul