É correto achar que os juros altos são reflexo do medo das pessoas que têm dinheiro ou que dirigem negócios.
O medo é produzido pelas incertezas, ou pelas certezas de ações que contrariam o interesse do capital.
Quem tem dinheiro, seja banco, empresa ou pessoa física, quer ter a certeza de não perder.
Essa é a razão pela qual o investidor procura aplicações mais seguras quando a economia não demonstra clareza suficiente para fazer investimentos de longo prazo.
O juros altos têm uma função clara na economia de mercado: reduzir o consumo.
Reduzindo o consumo, aumenta a oferta e tende a estabilizar ou até baixar os preços.
Assim funciona a economia de mercado, que se autorregulamenta.
Quando o governo tenta regulamentar o consumo para evitar a inflação, precisa ter muito cuidado para não errar na dosagem do remédio.
Existe um momento certo para aumentar os juros e evitar a onda de aumentos e também um momento certo para baixar os juros e evitar a recessão.
O governo demorou, e por várias razões. Além da taxa de juros baixa, houve aumentos de preços que geraram inflação.
Agora vivemos um momento contrário: será hora de baixar os juros e o Banco Central (BC) não tem essa percepção?
O governo acha que precisa baixar os juros de qualquer jeito e estabeleceu um conflito com o BC, chegando a questionar a sua autonomia.
O momento, portanto, é de cautela, de medo do que vem pela frente e consequentemente os juros continuam altos.
Como já era previsto, a economia em 2023 não está favorável para investimentos na atividade produtiva, interrompendo um ciclo que nem a pandemia e a guerra conseguiram interromper.
Podemos concluir que o medo de hoje é produzido pelos próprios agentes políticos, que até agora não se entenderam em relação à nova âncora fiscal, e das dúvidas que persistem sobre as intenções do novo governo.
Por enquanto o medo está por conta das incertezas, mas é possível que, dependendo das decisões da equipe econômica, especialmente com relação à reforma tributária, o medo continue por conta das certezas de que o plano não dará certo.
Todos os sinais que vieram, até mesmo os relacionados à reforma tributária pretendida, são péssimos para quem produz.
Por Arno Kunzler. Ele é jornalista e fundador do Jornal O Presente, da Editora Amigos e da Editora Gralha Azul