O Presente
Arno Kunzler

O som das botinas

calendar_month 31 de dezembro de 2021
3 min de leitura

Nas eleições de 2018, como nunca antes na história deste país, os militares estavam enfileirados apoiando Bolsonaro.
O discurso do capitão empolgou aqueles que durante os governos do PT, especialmente, não tiveram tratamento igual ao de outras categorias.

Desde manifestações de dentro do Exército, que até ofereceu o general Mourão para vice de Bolsonaro, até as polícias estaduais, bombeiros e civis do setor abraçaram a ideia de combater o PT e a esquerda.

Entre os que estavam enfileirados com Bolsonaro, também seus ex-colegas de farda, pessoas que um dia serviram as Forças Armadas e que tinham esperança, a maioria certamente ainda tem, num governo de origem militar.

Nesse contexto, a eleição de 2018, além de eleger todos os familiares de Bolsonaro que se candidataram, também elegeu praticamente todos os militares que foram candidatos por diversos partidos, mas todos apoiando Bolsonaro.

Juntaram-se, ainda, à campanha todos que tinham esperança de um governo que abraçasse as bandeiras que levaram os brasileiros às ruas em 2014 e 2015, movimento que culminou com a queda do governo Dilma.

Assim, um ex-capitão do Exército, deputado há 30 anos, conhecido somente pelas discussões e manifestações quase sempre bem agressivas, tornou-se presidente do Brasil.

Com o passar do governo, as bandeiras de campanha foram ficando para trás e os que ousaram discordar se tornaram dissidentes e foram sendo expurgados.

A turma diminuiu, especialmente os apoios que vieram de outras áreas, que não das botinas.

Contudo, ainda não diminuiu a convicção dos bolsonaristas de que o presidente será reeleito no primeiro turno, apesar das pesquisas indicarem o contrário, de que Lula pode ser eleito no primeiro turno.

Ainda que não admita, Bolsonaro sabe que quem pode lhe tirar do segundo turno é o ex-ministro Sergio Moro.

Por isso, direcionou todos os seus ataques ao ex-juiz, ex-ministro da Justiça e agora seu algoz e pré-candidato a presidente.
Todavia, se Bolsonaro se descuidar, poderá até tirar a chance de Moro crescer, mas corre o risco de deixar Lula “livre e solto” correndo por fora dessa disputa e avançando sobre o eleitorado do centro.

Se Lula consolidar uma aliança com o PSDB dissidente, que deve ir todo para o PSB, as chances de Bolsonaro ou qualquer outro candidato de chegar ao segundo turno serão pequenas.

Bolsonaro está cuidadosamente agindo para não deixar Sergio Moro crescer e ameaçar seu lugar no segundo turno, mas também não pode deixar Lula sem combate para não correr o risco de nem ter segundo turno.

Estamos a um ano das eleições. É claro que muita coisa ainda vai acontecer, mas estamos, sem dúvida, em uma campanha eleitoral antecipada.

Quem terá mais e melhor munição para uma corrida tão longa e tão desgastante?

Veremos.

 

Arno Kunzler é jornalista e fundador do Jornal O Presente e da Editora Amigos
arno@opresente.com.br

 

 
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